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A regulamentação dos jogos de fortuna é uma tendência mundial e o Brasil está perdendo espaço pela inércia

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Criado em 1991, o Projeto de Lei 442/91 — sobre a regulamentação de jogos de fortuna no Brasil — foi aprovado na Câmara dos Deputados em fevereiro deste ano, mas aguarda a apreciação dos senadores desde então. Nos últimos dias, o PL voltou à discussão como possível forma de aumentar a arrecadação de tributos pelo Estado.

“É inegável a existência no Brasil deste mercado não regulamentado que, por não estar sendo tributado, deixa de trazer receita para os cofres públicos”, diz a advogada Elisa Tebaldi — especialista em Direito Tributário do Ambiel Advogados –, acrescentando que “a regulamentação é uma tendência mundial e o Brasil está perdendo espaço pela inércia”.

Segundo a especialista, este mercado movimenta “mais de 20 bilhões de reais por ano”. “Em termos de empregos, não bastasse o ingresso dos mais de 500 mil trabalhadores desse mercado na formalidade, ainda se estima a geração de outros 250 mil empregos. Além disso, há que se considerar o fomento ao turismo.”

A questão da tributação dos jogos esteve entre os pontos mais controversos da votação na Câmara, porém. Elisa Tebaldi explica.

“A polêmica envolve dois fatores: de um lado, para atrair investimentos, é necessário prever tributos mais baixos e em linha com a prática internacional; de outro, muitos defendem que os tributos sejam mais altos em decorrência da natureza da atividade.”

Outra polêmica é o fato de o PL 442/1991 se referir de forma conjunta a jogos de azar variados como cassinos, bingos, jogo do bicho e apostas esportivas.

“Ainda que legalizados no mesmo ato normativo e sujeitos às mesmas regras gerais, cada uma dessas atividades tem peculiaridades que devem ser tratadas individualmente e na respectiva regulamentação — e o próprio PL 442/91 já traz previsões específicas para cassinos, bingos, jogos online e jogo do bicho”, esclarece a advogada Beatriz Junqueira, também do Ambiel Advogados. Para a especialista, o desmembramento poderia atrasar ainda mais a aprovação de uma lei em debate há muitos anos. “Por outro lado, há categorias — tal como o jogo do bicho e bingos — que enfrentam maior resistência política, de modo que sua segregação poderia facilitar a aprovação do projeto de lei”, acrescenta.

Beatriz Junqueira explica também que as apostas esportivas de quota fixa já foram legalizadas pela Lei 13756/2018 e ainda aguardam regulamentação.

“A ausência de regulamentação deixou muitos agentes em um limbo, e o governo tem iniciado investigações envolvendo a prática irregular de atividades por sites de apostas esportivas.”

A advogada enumera as vantagens e desvantagens da regulamentação dos jogos para a sociedade. “Do ponto de vista de receita tributária, investimentos externos, geração de empregos e renda, todas as atividades, se legalmente exploradas, têm vantagens. As desvantagens atualmente discutidas são mais relacionadas a uma potencial violação dos ‘bons costumes’ — que não necessariamente trazem aspectos técnicos. Além da pressão da bancada evangélica, muito se fala a respeito da facilitação de práticas ilícitas como a lavagem de dinheiro. A ausência de regulamentação não impede a ocorrência de atividades ilícitas, todavia, a regulamentação e a existência de mecanismos de controle mitigam riscos.”

Por fim, cabe lembrar que a legislação brasileira não deverá diferir muito das legislações dos principais países democráticos. “O Brasil é dos poucos países que ainda não legalizou os jogos de fortuna, alinhando-se com países de maioria muçulmana”, comenta Beatriz Junqueira. “A experiência internacional já orienta a respeito de pontos de atenção e casos de sucesso, apresentando uma linha mestra para a legislação brasileira.”

Beatriz Ponzoni Junqueira, advogada da Ambiel Advogados, graduada e Mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Elisa Garcia Tebaldi, advogada da Ambiel Advogados, graduada em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP).

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