Mesmo diante de um ano atípico e bastante desafiador, com incertezas no ambiente doméstico e no cenário internacional, a Região Sul encerrou 2022 com um desempenho econômico muito além do satisfatório. Mais uma vez, os três estados contabilizaram índices de desemprego bem abaixo da média nacional, com destaque para Santa Catarina. Enquanto o estado registra 3,8% de pessoas sem ocupação, o resto do país conta com 8,7% nessas condições, de acordo com o IBGE. Paraná e Rio Grande do Sul aparecem na sequência, com taxa de desemprego de 5,3% e 6%, respectivamente. Além disso, os catarinenses ostentam o maior nível de emprego já alcançado por um estado brasileiro na pesquisa, com a ocupação de 65,8% da população com 14 anos ou mais.
Para este ano, é natural que, diante da troca de governos, haja um certo nível de incerteza com relação à investimentos e decisões por parte das empresas, atentas às mudanças e sinalizações de futuro da nova equipe. Entretanto, em dois dos três estados, os representantes foram reeleitos, dando sequência às pautas já apresentadas, como os investimentos em infraestrutura, por exemplo. No caso do Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite deve seguir com a política de austeridade fiscal que marcou sua gestão e garantiu o equilíbrio das contas no estado. Ratinho Júnior, reeleito no Paraná com ampla vantagem frente aos demais candidatos, deverá focar no potencial para o agronegócio e em obras de infraestrutura, enquanto Jorginho Mello, eleito no segundo turno, promete aumentar a eficiência no sistema de transportes e, consequentemente, a produtividade e a economia.
A última divulgação oficial do PIB, realizada pelo IBGE em 2020, reforçou os bons resultados da região Sul, com o Paraná em quarto lugar na colocação geral, seguido pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Parte do desempenho paranaense é explicado pela força do cooperativismo, principalmente no agronegócio. Com o Plano Paraná Cooperativo 200 em andamento, mais conhecido pela sigla PRC200, a estimativa é que o faturamento do segmento ultrapasse R$ 200 bi em 2023. Santa Catarina, por sua vez, tem se destacado na geração de empregos, especialmente nos setores agroindustrial, mecânico e têxtil, além de realizar investimentos maciços no turismo e setor imobiliário. Já o Rio Grande do Sul demonstra força na agricultura, pecuária e na indústria, além do setor de serviços que, sozinho, representa 63,3% do total do PIB do estado.
Apesar dos excelentes índices, há um ponto de atenção. Recentemente, o Indicador de Inadimplência das Empresas, gerado pela Serasa Experian, registrou mais de seis milhões de organizações no vermelho no Brasil, sendo 16% deles no Sul. Paraná e Santa Catarina bateram recorde de companhias com contas a pagar vencidas no mês de novembro de 2022 e o Rio Grande do Sul teve o maior número anual. A curto prazo, esse cenário preocupa pela desaceleração dos negócios observada no final do ano passado e a postergação de investimentos para o primeiro trimestre deste ano.
Por João Panceri e Aldo Macri, sócios de mercados regionais da KPMG para a região sul