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Inflação local de olho na Rússia e na China

O conflito Rússia x Ucrânia desencadeou ondas de crises sensíveis. Sobretudo, afetando o preço das commodities. Acompanhe a seguir o artigo de Maurício Takahashi, professor de Finanças da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Free Unsplash@socialincome
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Em um momento em que até as técnicas de análise de cenários tendem a divergir significativamente, devido à grande incerteza em relação às possibilidades e as suas probabilidades, o caminho do noticiário tem sido a frequência tempestiva de informações.

O conflito Rússia x Ucrânia desencadeou ondas de crises sensíveis. Dessas ondas, a crise humanitária talvez seja a que mais perturba as mentes. Sensível aos acontecimentos, é necessário, porém, buscar clareza no entendimento no que o ostracismo da Rússia pode impactar o Brasil: Preços e Logística.

Sanções, congelamento de bens, embargos, etc, são feitas às jurisdições chamadas países, contudo essas são organizações político-geográficas. Do ponto de vista econômico produtivo, o que existem são as firmas. Elas estão interligadas em cadeias produtivas complexas em seus setores de atuação.

Quando existe de fato, ou em potencial, um incremento da escassez de qualquer bem ou serviço a tendência é que haja um aumento de preços. É o caso das commodities.

As empresas que possuem receita em commodities tendem a ter suas ações valorizadas. É o caso de empresas de energia, já que o mercado projeta que os ataques russos tendem a agravar a escassez de produtos básicos.

O Petróleo está com o maior preço desde 2008, acima de US$ 116 o barril, dado que a demanda está evitando a oferta russa. O gás natural europeu saltou para um novo recorde, enquanto o zinco bateu o patamar mais alto desde 2007 e outros metais industriais estenderam uma forte alta de preços.

Autoridades do governo brasileiro já consideram o efeito inflacionário dos alimentos em decorrência da invasão, dado que o Brasil importa fertilizantes da Rússia e, também, Bielorússia. A ministra da agricultura, Tereza Cristina, afirmou que a safra atual está garantida, com estoque de fertilizante até outubro, mas comunicou que a situação preocupa, indo ao Canadá em março de 2022 para negociar compra desses insumos, visto a elevada dependência que o país tem na importação de potássio.

A Rússia é uma grande produtora de milho e somado à estiagem experimentada pelo mercado local, haverá escassez do grão, impactando no preço de proteínas animais, frango, porco etc.

A Ucrânia é grande produtora de trigo, milho, girassol e óleo de girassol. Destaque para o trigo que foi para o maior patamar desde 2008 por temores de escassez de oferta.

Por um motivo distinto ao conflito, o minério de ferro, impulsionado pela crescente expectativa de que a demanda de aço da China se fortalecerá, teve em Singapura uma alta de mais de 18% até esta semana, chegando a US$ 160 a tonelada. Na mesma toada, as ações da Vale tiveram uma alta acumulada de 28,43%.

Dado que a expectativa de inflação está alta, mais uma vez por motivos externos, a política de aperto monetário do Banco Central, tende a se estender para além de maio/junho de 2022.

O monitoramento de fatos relevantes e a análise de seus impactos nas cadeias de valor específicas, devem continuar sendo imprescindíveis.

Maurício Takahashi é professor de Finanças no Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), campus Alphaville.