Por: Carlos Henrique Chaves Pessoa, Gestor de Recursos e CEO da Vêneto Family-Office
O termo offshore em inglês significa “além da costa”, no mercado financeiro se refere a investimentos fora do país em que o investidor reside. Para nós brasileiros, ao se remeter dinheiro para fora, investindo em ações nos EUA ou aplicando em renda fixa na Europa, estamos fazendo investimentos “offshores”. Historicamente o brasileiro investiu pouco fora do Brasil e isso tem algumas razões: Décadas de juros muito altos; custos e volumes altos para se investir fora do Brasil, necessidade de apoio jurídico e limitações regulatórias.
Nos últimos anos essa dinâmica começou a mudar. Os juros caíram fortemente, saindo de um pico de 14,25% em 2016 e atingindo as suas mínimas em 2% em 2021. Hoje não é mais necessário o envio do recurso para fora do país, para um investidor conseguir acessar ativos internacionais. As principais instituições financeiras criaram veículos em que o investidor consegue comprar fundos, BDRs (recibos de ações internacionais) e ETFs (cestas de ativos) offshores, sem nem mesmo enviar o recurso para fora. Com custos e volumes baixos, no montante de R$ 1 mil, hoje qualquer um pode ter um investimento internacional em sua corretora brasileira. Por fim, a CVM (comissão de valores mobiliários) vem mudando a regulação e a tornando mais amigável para o pequeno investidor. Como a possibilidade de compra de fundos internacionais, também BRDs/ETFs na própria B3 (B3SA3), sem a necessidade de ser um investidor qualificado.
Outras questões também vêm pesando na atratividade desse tipo de investimento. A eterna insegurança política e econômica do Brasil, se contrasta com a pujança de outros países como: EUA, China e outros países emergentes com muito mais dinamismo econômico que o nosso. Países maduros, até mesmo, como os EUA, vem crescendo mais que o Brasil na última década. A economia brasileira, desde 2013 não cresce acima de 2% ao ano, tivemos um impeachment bem turbulento, o real se desvalorizou fortemente e a instabilidade política parece que virou regra e não exceção. Esse ano ainda será marcado por uma eleição polarizada, geralmente nesses anos, o fluxo de envio de recursos aumenta significativamente. Nem mesmo o câmbio muito desvalorizado, vem inibindo a retirada de recursos do Brasil.
A despeito desses problemas citados acima e uma mudança de postura recente, o investidor brasileiro sempre se caracterizou por ser muito bairrista e pouco globalizado. Comparado a outros países emergentes, ainda estamos muito longe de uma diversificação global mais ampla. No Chile a diversificação de portfólio é muito maior e mais antiga que a nossa. Segundo dados do governo chileno, as reservas de sua população já se encontram mais de 30% aplicadas fora de seu país. Por outro lado, segundo dados do Banco Central brasileiro e Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), o somatório dos recursos de brasileiros no exterior chegou a R$ 827 bilhões no fim de novembro de 2021, algo como 10% dos ativos totais, muito abaixo da média de outros países emergentes.
Para quem deseja enviar recursos para fora e não aplicar via fundos, ETFs ou BDRs por aqui, deve se atentar a algumas questões. Na maioria dos países, como nos EUA, você deve montar uma estrutura patrimonial junto ao seu advogado, visto que esses países não possuem acordo bilaterais, isentando de bi-tributação. Se o investidor aplicar via a sua pessoa física, poderá incorrer em impostos muito elevados, como um imposto de sucessão acima de 40% e terá que recolher o carnê leão mensalmente de seus ganhos financeiros. De outro lado, uma estrutura offshore adequada será muito efetiva na sucessão de patrimônio (investimentos no exterior não incorrem em ITCMD – Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação) e será o melhor veículo para otimizar os impostos das movimentações financeiras. Contudo, essas estruturas têm um custo e só se justificam para patrimônios acima de US$ 500 mil dólares. Para investimentos abaixo disso, a sugestão seria investir em ativos offshore sem remeter recursos para fora do Brasil, em sua própria corretora.
O investimento offshore já é uma realidade, é possível para qualquer investidor, é prático e simples. Em um país cheio de desafios como o nosso, aconselha-se a diversificação em moedas e geografias. Idealmente, ter pelo menos 25% dos seus investimentos em moeda forte, pode ser uma forma de se proteger, descorrelacionar com os ativos locais e contribuir na rentabilidade de seus investimentos. Os investidores conservadores podem se incomodar com a volatilidade do câmbio e devem avaliar os riscos desses ativos.