O que faz uma moeda local se valorizar ou perder valor? A discussão de que uma economia está se fortalecendo pode ser muito bem exposta através do poder de compra de sua moeda ao redor do globo. Mas nem sempre entendemos o que realmente faz uma moeda se alterar na visão da economia global.
Uma moeda representa uma ferramenta de poder aquisitivo, logo, não seria estranho que “os mais ricos” tenham os maiores poderes.
No entanto, para entender a hierarquia existente no sistema econômico mundial, você precisa entender o fluxo de câmbio global, e como o mercado “precifica” um movimento.
A referência global: o dólar
É complicado entender se uma moeda é forte ou não em mercado internacional sem ter uma base de comparação. Afinal, por exemplo, se você tiver 1000 reais (a moeda do Brasil) e for fazer compras em dois países diferentes, como, por exemplo, Estados Unidos e no Quênia, a quantia de itens que você poderá comprar com o mesmo valor monetário provavelmente será bastante diferente.
O processo de precificação é essencial para o cotidiano da economia global. Principalmente considerando que a maior parte dos países do planeta operam sobre uma visão capitalista de mercado. Mas estas economias globais, possuem em sua grande parte sua própria moeda, que possuem atuações limitantes geograficamente a seus países de origem.
Para gerar uma linha de recorte geral, a economia global utiliza o valor do dólar como um índice de referência, (ou benchmark como investidores gostam de falar).
Estabelecendo uma comparação direta entre as moedas e o valor do dólar, torna-se possível entender verdadeiramente o poder de compra de determinada moeda, em um contexto globalizado.
Mas o que dita o valor de uma moeda em relação ao dólar?
Então se uma moeda se compara ao dólar para comparar seu verdadeiro poder aquisitivo na economia global, o que faz uma moeda alterar seu valor em relação ao dólar? A resposta é taxa de câmbio.
O principal fator que define a taxa de câmbio de uma nação, em uma política de câmbio flutuante, é a reserva cambial. Em outras palavras, o valor do dólar depende da quantia de dólar que existe guardado no banco central, e isso é possível graças ao conceito da oferta e da demanda.
Para entender é bastante simples: se o governo tiver muitos dólares (oferta) e a demanda por esses dólares for constante, o governo consegue “vender” estes dólares por um valor menor.
Por isso, quando por exemplo, o Brasil possui uma grande quantia de dólares em suas reservas cambiais, o valor do dólar em relação ao real cai, pois, assim “existem” mais dólares ofertados que a demanda está exigindo.
Assim, para mudanças significativas aconteçam, se torna necessário que as reservas cambiais de dólar no Brasil aumentem. Contudo, isso apenas é possível com investimentos estrangeiros aqui no Brasil. O mesmo também vale para as demais moedas.
As expectativas do mercado
Por isso, as expectativas do mercado funcionam como fator crucial para a variação da moeda. E entre alguns dos principais fatores que justificam a cotação do Dólar é a relação de risco.
O risco país é um indicador importante no mercado internacional. Ele indica a capacidade de um país cumprir com suas dívidas internacionais. Contudo, com as complicações da economia, o risco do País aumenta, e assim o país se torna menos atrativo para investidores estrangeiros.
Considerando o cenário de crise no mercado global, um período pandêmico que resultou em uma alta generalizada da inflação, o esperado seria uma valorização ainda maior da moeda americana. Isto é, considerando que a terra do Tio Sam seria o “lugar mais seguro” para os investidores. Recentemente, até mesmo o Banco Central Americano (FED), considerado por muitos como o mais seguro do planeta, precisou alterar suas taxas de juros, para tentar conter o avanço da inflação. Em escala global, o movimento do FED forçou economias menos “interessantes” aos investidores aumentarem ainda mais suas taxas de juros, para voltarem a ser atraentes em um contexto econômico global aos investidores internacionais.
Além disso, este movimento de inflação que vem impactando as moedas também tem parte de sua origem no conflito entre Rússia e Ucrânia, que tem como sua contra parte direta insumos básicos: alta demanda por alimentos, energia e derivados. Assim, causando uma explosão de procura das commodities. O outro lado da moeda, é que as sanções da guerra afetam o mercado global de produção e de distribuição destes insumos. Ou seja, uma “chuva de compradores” e uma escassez de produtos, o resultado é a alta destes insumos.
Petróleo, Trigo… as principais commodities explodiram em valor de mercado, estabelecendo novos recordes de preço. Se tudo é uma via de mão dupla, o movimento causou um favorecimento da balança comercial de países exportadores como o caso do nosso Brasil. A alta entrada de Dólar, favorecida pelo movimento fortalece a balança cambial em prol do real, que aumenta seu poder de compra em um mercado altamente inflacionado da moeda americana.
As respostas já estão aparecendo, com a recente alta dos juros americanos e das taxas domésticas, o que favorece ainda mais o fluxo de investidores estrangeiros.
Conclusão
Assim, uma moeda local se valoriza ou desvaloriza de acordo com o nível de investimento externo que uma economia está recebendo, já que o valor de uma moeda se dá em dólares, a moeda universal para negociações internacionais.
Desse modo, é possível gerar um padrão de preço geral para todos os países do globo, e quem tem mais poderio aquisitivo fica na frente neste jogo.