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Uma nova era de cooperação e investimentos entre China e América Latina

china petroleo baixo teor de enxofre
china petroleo baixo teor de enxofre

Os últimos meses evidenciaram a força dos laços econômicos e culturais entre a América Latina e a China. Inclusive, a sétima cúpula da CELAC, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, realizada em janeiro na Argentina, contou com a participação do presidente Xi Jinping, com um discurso por vídeo. No pronunciamento, o líder chinês realçou a importância da organização para o desenvolvimento regional e o quanto os países latino-americanos e caribenhos são membros importantes de um mundo em desenvolvimento, com grande relevância global.

E é justamente nesse contexto que a CELAC se gabarita como um instrumento formidável para a cooperação mútua entre seus países membros e a China. É nessa cúpula que as nações integrantes podem praticar o multilateralismo e trabalhar na promoção do desenvolvimento comum, além de impulsionar a integração regional com inovação e abertura, beneficiando a população do continente.

Em seu discurso, o presidente chinês destacou que cada vez mais países da região têm promovido cooperação de alta qualidade com o gigante asiático, dentro do escopo da Belt and Road Initiative. Vale ressaltar que, somente na última década, a China já investiu mais de cem bilhões de dólares na América Latina — e esse valor só tende a crescer com a adesão de mais nações da região. Ademais, o dinamismo dessa iniciativa aumenta o seu escopo de atuação e garante novos e constantes investimentos, seja em projetos verdes, seja em economia digital.

Em dezembro, a KPMG marcou presença no CHINA-LAC Business Summit, cúpula organizada pelo Conselho Chinês para a Promoção do Comércio Internacional que a cada dois anos é realizada na América Latina. Desde sua criação em 2007, esse é o mais importante evento de negócios entre empresas chinesas e países da América Latina e Caribe, considerado pelo governo asiático como uma das principais ferramentas para promover o intercâmbio comercial e os investimentos com a região.

Por tudo isso, o CHINA-LAC é uma vitrine única para governos, empreendedores e empresas acessarem contatos e informações importantes para abrir mercados e fortalecer parcerias. Na ocasião, participei de diversas conversas com autoridades chinesas sobre oportunidades de investimentos em energia renovável, economia digital, locomoção e transporte público, ferrovias, portos e mineração. Notei que existe um ânimo crescente em novos fluxos de comércio exterior, além de um grande apetite em participar de novos projetos que estão no radar neste ano e no próximo. Não à toa, as três gigantes de infraestrutura e as três maiores do setor de energia mundiais, que já estão presentes e ativas na região, confirmaram que a América Latina é região prioritária para aplicação de novos recursos.

É possível também que, com a chegada de novos entrantes de peso conversando com autoridades latino-americanas, haverá participação crescente das empresas chinesas em iniciativas de infraestrutura e de energia renovável neste e nos próximos anos. Tais fatores comprovam que o sucesso da parceria estratégica entre a América Latina e a China, com um aumento considerável no número de investimentos anuais chineses.

De acordo com o último mapeamento de projetos anunciados e de participação em futuras concorrências no continente, a projeção é de mais 27 bilhões de dólares oriundos da China para os próximos dois anos. E este 2023 já começa muito aquecido, com o anúncio, ainda nas primeiras semanas de janeiro, de investimentos de peso na América Latina, entre os quais se destacam um projeto inédito de desenvolvimento no setor de mineração na Bolívia e a construção, na Argentina, de uma das maiores usinas de energia solar do mundo, que deverá contar com mais de um milhão de painéis instalados a mais de quatro mil metros do nível do mar.

Neste contexto, com o controle da crise sanitária e a retomada da economia no país asiático, é seguro dizer que serão bem-sucedidas as empresas e instituições que buscarem parcerias duradouras e, dessa maneira, consigam embarcar nessa nova era de cooperação e prosperidade.

Por Daniel Lau, sócio-líder do Desk China da KPMG no Brasil e na América do Sul.