As ações da Americanas (AMER3), em recuperação judicial, tiveram uma forte valorização nesta segunda-feira (18), chegando a registrar alta de 92%, cotadas a R$18,14 por volta das 11h. A oscilação intensa obrigou a Bolsa de Valores a interromper as negociações diversas vezes, acionando o mecanismo de leilão.
Na última quinta-feira (14), véspera do feriado da Proclamação da República, os papeis da varejista já haviam surpreendido o mercado, disparando 180% e fechando o dia a R$9,41, saindo da faixa dos R$3. Contudo, até às 13h desta segunda-feira, a alta desacelerou para 19,77%, com as ações cotadas a R$11,27.
O movimento ocorre na esteira do resultado financeiro do terceiro trimestre de 2024 (3T24), divulgado na quarta-feira (13). O balanço surpreendeu o mercado ao reportar um lucro líquido de R$10,3 bilhões, revertendo o prejuízo de R$1,63 bilhão registrado no mesmo período de 2023.
Impactos do plano de recuperação judicial
A empresa atribuiu o resultado positivo principalmente aos efeitos do Plano de Recuperação Judicial, aprovado em junho de 2024. Entre os fatores destacados estão a renegociação e a quitação de dívidas concursais, que geraram impactos financeiros expressivos.
“O principal impacto foi o reconhecimento como receita financeira dos haircuts [descontos] gerados no momento da quitação de dívidas concursais com credores financeiros e reversão de juros e atualizações monetárias”.
explicou a Americanas no relatório trimestral.
De acordo com analistas, o reconhecimento contábil dos efeitos da renegociação foi decisivo para o resultado histórico. Caroline Sanchez, analista de varejo da Levante Investimentos, avaliou que o lucro reflete, em grande parte, a reestruturação financeira.
“Apesar dessa euforia com o resultado da Americanas, há um efeito direto da novação de dívidas, que nada mais é do que renegociar e alongar os prazos de pagamento. Sem esses fatores, o desempenho não seria tão expressivo”, ponderou Sanchez em entrevista ao portal Money Times.
Cenário ainda desafiador para o varejo
Embora o mercado tenha reagido com otimismo ao balanço, especialistas alertam que o cenário para o setor de varejo e para a própria Americanas continua desafiador. Sanchez destacou que a recuperação da empresa não se resume aos números apresentados no balanço.
“O processo de reestruturação é muito mais complexo. É preciso observar como a empresa vai sustentar essa recuperação em um cenário ainda difícil, especialmente para o e-commerce, que enfrenta pressão de custos, competição acirrada e mudanças no comportamento do consumidor”, afirmou.
Nos últimos meses, a Americanas implementou uma série de medidas para enfrentar a crise desencadeada em janeiro de 2023, quando revelou inconsistências contábeis de cerca de R$20 bilhões. O caso gerou uma queda abrupta no valor de mercado da empresa e resultou na entrada em recuperação judicial.
Números e perspectivas
Desde a aprovação do plano de recuperação, a varejista renegociou dívidas de aproximadamente R$41 bilhões e conseguiu reduzir significativamente seu passivo financeiro. Além disso, o plano prevê a entrada de novos investidores e a captação de recursos para sustentar operações e promover a modernização tecnológica.
Apesar disso, o mercado permanece cauteloso. Para muitos analistas, a valorização das ações reflete mais uma reação especulativa do que uma mudança estrutural na situação da empresa.
“Olhando para frente, a Americanas precisa provar que consegue gerar resultados operacionais consistentes e reconquistar a confiança do mercado”, afirmou um relatório da XP Investimentos divulgado nesta segunda-feira.
Investidores atentos
A performance das ações da Americanas nos últimos dias tem atraído a atenção de investidores, mas especialistas recomendam cautela. “O mercado está muito sensível às notícias relacionadas à recuperação da empresa. A volatilidade pode continuar alta nos próximos pregões”, alertou Sanchez.
Com uma dívida ainda significativa e desafios operacionais, o futuro da Americanas dependerá de sua capacidade de implementar o plano de reestruturação e superar o impacto da crise reputacional e financeira que marcou os últimos dois anos.
Enquanto o lucro de R$10,3 bilhões reacende esperanças para a recuperação da varejista, analistas destacam que os próximos meses serão decisivos. A valorização de 92% em um único dia, embora impressionante, pode indicar especulação de curto prazo, especialmente diante de um cenário macroeconômico adverso para o varejo.
“O mercado tende a exagerar em momentos de notícias positivas ou negativas. No caso da Americanas, é preciso ter uma visão crítica e acompanhar de perto os desdobramentos da reestruturação”, concluiu Sanchez.