- O pesquisador da FGV tem uma perspectiva mais pessimista sobre o desempenho econômico do Brasil do que a agência Moody’s
- Pessôa destaca que os desequilíbrios econômicos atuais tornam insustentáveis o crescimento e o aumento da dívida pública
- Segundo Pessôa, o Brasil, no entanto, enfrenta desafios fiscais graves, e o cenário atual pode resultar em uma crise mais profunda nos próximos anos
Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), possui uma visão mais negativa sobre o desempenho econômico do Brasil do que a agência de classificação de risco Moody’s, que colocou o país a um passo do grau de investimento.
“O grau de investimento é superdistante. Acho que a Moody’s vai rebaixar o Brasil daqui a uns dois ou três anos. Devem reverter a decisão que eles tomaram. É a minha impressão”, afirma.
Pessôa destaca a existência de desequilíbrios estruturais na economia brasileira que tornam insustentáveis tanto o crescimento econômico quanto o aumento da dívida pública. No entanto, ele acredita que o Brasil conseguirá “empurrar com a barriga” até o processo eleitoral de 2026. Isto, quando será necessário enfrentar a realidade de uma situação fiscal mais complicada.
“É (uma visão) mais negativa. Não tanto pela foto do País, mas o filme é ruim. Quando a gente fala sobre a insustentabilidade, ela não necessariamente se aplica à foto, mas se aplica ao filme”, afirma Pessôa.
Segundo Pessôa, a avaliação da Moody’s, que baseou sua decisão na expectativa de uma recuperação econômica mais robusta e na crença de que o novo arcabouço fiscal ajudará a resolver os desequilíbrios fiscais do país, é legítima, mas ele discorda dessa perspectiva. O pesquisador acredita que o cenário econômico futuro é mais preocupante do que a foto atual do país. O que faz com que a avaliação da agência de rating não capture completamente os desafios que estão por vir.
Pessôa faz uma comparação com o cenário de 2015, durante o segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, embora considere que, dessa vez, os desequilíbrios sejam menos intensos. Ele acredita que, mesmo com mais dois anos de uma trajetória desequilibrada, as consequências econômicas serão mais amenas.
“Em 2027, o Brasil enfrentará uma situação semelhante à de 2015, mas menos dramática”, afirma.
Ele vê a crise fiscal que se desenha como a continuidade de um processo de arrumação iniciado em 2015, que percorreu os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro.
Avanços em algumas áreas fiscais
Apesar das dificuldades, Pessôa reconhece que o Brasil avançou em algumas áreas fiscais. O governo Bolsonaro, por exemplo, entregou ao ministro Fernando Haddad um país em uma situação fiscal melhor do que aquela em que ele havia encontrado. Pessôa também aponta que, ao contrário do que ocorreu nos sete anos de desarrumação econômica entre 2015 e 2022, agora há reformas estruturais em andamento. Que, limitam a capacidade do atual governo de agravar ainda mais a crise fiscal. Essas reformas, segundo ele, dificultam o retrocesso e garantirão um ajuste menos doloroso em 2027.
Em resumo, embora reconheça que o cenário atual não seja tão grave quanto o da crise de 2015, Pessôa alerta para a necessidade de um ajuste fiscal nos próximos anos. Ele acredita que, sem uma ação mais contundente, o Brasil poderá enfrentar sérias dificuldades fiscais a partir de 2027. Quando os efeitos dos desequilíbrios acumulados começarão a se manifestar com mais força.