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Carrefour anuncia decisão de não comprar mais carnes do Mercosul

O CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, toma medida após ouvir descontentamento de agricultores franceses contra o acordo UE-Mercosul.

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  • O CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, anunciou que a varejista não venderá mais carnes de países do Mercosul, incluindo Brasil, devido a preocupações com os padrões de produção
  • A medida foi tomada após ouvir o descontentamento dos agricultores franceses contra o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul
  • O Carrefour Brasil afirmou que a decisão não afetará suas operações no país, mas o governo brasileiro criticou a postura, considerando-a parte de uma ação coordenada contra o Brasil

O Carrefour decidiu interromper a compra de carnes dos países do Mercosul, incluindo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, independentemente dos preços ou quantidades oferecidas por esses países. O CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, anunciou a medida em um comunicado divulgado nas redes sociais na quarta-feira (20). Bompard tomou a decisão após ouvir os protestos de agricultores franceses contra o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, que gerou grande descontentamento na França.

Bompard enviou o comunicado diretamente a Arnaud Rousseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA), e também o publicou nas redes sociais da empresa, como Twitter, LinkedIn e Instagram. No texto, Bompard explicou que o Carrefour se compromete a não vender carnes oriundas do Mercosul, citando preocupações com os padrões de produção. Ele afirmou que o acordo de livre comércio traria o “risco de a produção de carne que não cumpre com seus requisitos e padrões se espalhar pelo mercado francês”.

Expressar sua oposição

A decisão do Carrefour surge em meio a protestos crescentes na França, com agricultores se manifestando contra o acordo UE-Mercosul. Desde segunda-feira, 18 de novembro, grupos como a FNSEA e os Jovens Agricultores têm realizado bloqueios de rodovias e atos de protesto, queimando objetos para expressar sua oposição. O cerne da questão é a proposta de aumento nas importações de carne do Mercosul, algo que, segundo os manifestantes, pode prejudicar a produção agrícola local e enfraquecer os padrões ambientais e de bem-estar animal da França.

Em resposta a esses protestos, os agricultores exigem que o presidente francês, Emmanuel Macron, utilize o veto da França caso o acordo seja aprovado da forma como está. O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, também já sinalizou que o país não deve apoiar o acordo se ele não passar por mudanças significativas. Para Bompard, o Carrefour espera que sua postura influencie outras empresas do setor agroalimentar, em especial no mercado de catering, que representa mais de 30% do consumo de carne na França.

O Carrefour Brasil, por sua vez, afirmou que a decisão de interromper as compras de carne do Mercosul não afetará as operações do grupo no Brasil. De acordo com a empresa, as medidas tomadas pelo Carrefour na França são de caráter local e não têm impacto nos negócios brasileiros.

Reações fortes ao governo brasileiro

Entretanto, a decisão gerou reações fortes por parte do governo brasileiro. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, criticou duramente a postura do Carrefour, afirmando que a ação parece parte de uma estratégia coordenada por empresas francesas contra o Brasil. Fávaro se mostrou “indignado” com a declaração do CEO do Carrefour, afirmando que ela distorce a realidade da produção brasileira. Segundo ele, a produção de carne no Brasil é sustentável e exemplifica boas práticas ambientais, contradizendo as alegações feitas pelo Carrefour.

Fávaro ainda comparou o caso com a decisão da empresa Danone, que, recentemente, parou de comprar soja do Brasil devido à iminente lei antidesmatamento da União Europeia e passou a adquirir o produto de países asiáticos. O ministro sugeriu que a postura do Carrefour segue a mesma linha de uma pressão econômica orquestrada, aproveitando-se de uma narrativa sobre as práticas agrícolas brasileiras que não condiz com a realidade. Ele destacou que, enquanto as práticas da França não recebem questionamentos, o Brasil se torna alvo de críticas infundadas.

A decisão do Carrefour e a reação do governo brasileiro refletem uma disputa maior sobre o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, cujas negociações envolvem questões sensíveis sobre produção agrícola, padrões ambientais e o comércio global de carnes. A medida do Carrefour é apenas mais um capítulo nessa discussão, que já vem gerando tensões entre as partes envolvidas, com implicações políticas e comerciais tanto para o Brasil quanto para a França