- A agência de classificação Fitch Ratings elevou a nota de crédito de longo prazo da Argentina de “CC” para “CCC”, refletindo sinais de melhora nas finanças públicas, como o superávit fiscal consecutivo em outubro, mas ainda alerta para os riscos cambiais e a dívida externa do país
- A Argentina registrou um superávit fiscal primário de 746,9 bilhões de pesos em outubro, o décimo consecutivo
- O governo de Javier Milei segue implementando medidas rigorosas de austeridade, incluindo cortes de gastos e aumento de impostos, para tentar equilibrar as contas públicas em meio à crise
- A Argentina registrou um superávit fiscal primário de 746,9 bilhões de pesos em outubro, o décimo consecutivo
- O governo de Javier Milei segue implementando medidas rigorosas de austeridade, incluindo cortes de gastos e aumento de impostos, para tentar equilibrar as contas públicas em meio à crise
A agência de classificação de risco Fitch Ratings anunciou nesta sexta-feira (15), a elevação da nota de crédito de longo prazo da Argentina, passando de “CC” para “CCC”. O ajuste ocorre em meio a um contexto de austeridade fiscal e dificuldades econômicas, com o governo de Buenos Aires tentando estabilizar as finanças públicas em um cenário de alta inflação e dívidas externas elevadas.
O aumento da nota de crédito reflete um dos poucos sinais positivos da economia argentina nos últimos meses, como o superávit fiscal primário, que já chegou a seu décimo mês consecutivo de superávit. O ministro da Economia, Luis Caputo, divulgou nas redes sociais que, em outubro, o superávit fiscal primário foi de 746,9 bilhões de pesos argentinos (cerca de 753,7 milhões de dólares).
O governo considerou esse resultado um indicativo de que suas políticas fiscais, que incluem severas medidas de austeridade, começam a mostrar algum efeito positivo, mesmo em um contexto de desafios econômicos e sociais.
Superávit fiscal e medidas de austeridade
O governo argentino, liderado pelo presidente Javier Milei, adota um conjunto de políticas econômicas rigorosas para tentar controlar a inflação, reduzir o déficit fiscal e aumentar a confiança dos investidores. O superávit fiscal de outubro é um reflexo direto das medidas de austeridade implementadas, incluindo cortes de gastos públicos e o aumento da arrecadação, principalmente por meio de uma série de impostos sobre as exportações e as grandes corporações.
Embora o superávit fiscal seja um sinal positivo, ele também reflete o sacrifício imposto à população. O aumento de impostos e a redução de benefícios sociais têm gerado tensões dentro do país, com manifestações e críticas ao governo, que enfrenta uma população cada vez mais empobrecida devido à alta inflação e à desvalorização da moeda local.
O superávit fiscal de 746,9 bilhões de pesos em outubro se soma a uma série de resultados semelhantes, que mostram uma melhoria gradual nas finanças do país, ainda que insuficiente para resolver os problemas econômicos de fundo. A crise de dívida externa, que já representa um peso significativo nas contas do país, e a escassez de dólares continuam a ser grandes desafios para a administração de Milei.
Perspectivas econômicas: crescimento fraco e incertezas cambiais
Apesar da melhora na nota de crédito, a Fitch Ratings foi cautelosa ao avaliar as perspectivas econômicas da Argentina. A agência de classificação manteve uma visão negativa sobre a capacidade de pagamento da Argentina, apontando que o país ainda enfrenta riscos elevados, especialmente em relação à sua dívida externa e à escassez de reservas internacionais. A Fitch estimou que a economia argentina encolherá 3,6% em 2024, o que representa uma contração significativa, antes de se recuperar em 2025, com um crescimento projetado de 3,9% no próximo ano.
No entanto, essa recuperação ainda depende de vários fatores, incluindo a estabilidade cambial e a confiança dos investidores. A alta volatilidade do peso argentino e a falta de acesso a mercados de crédito internacionais são fatores que limitam as perspectivas de crescimento sustentável a curto e médio prazo. Além disso, a Argentina continua a enfrentar uma inflação crônica, que, segundo estimativas, pode fechar o ano em torno de 130%, o que dificulta ainda mais o poder de compra da população e exacerba as desigualdades sociais.
A entrada de dólares no país, impulsionada pela exportação de commodities, tem ajudado a aumentar as reservas internacionais da Argentina, o que foi citado pela Fitch como um fator positivo. No entanto, a agência também alertou que os riscos cambiais e a volatilidade do mercado continuam sendo ameaças constantes, que podem impactar a trajetória de recuperação da economia argentina.
Desafios políticos e sociais
O governo de Javier Milei, que assumiu a presidência em 2024, enfrenta um cenário político desafiador. O mandato de Milei tem sido marcado por tensões políticas internas e pela pressão popular contra as medidas de austeridade, que afetam a classe média e os setores mais vulneráveis da sociedade. Além disso, a oposição política também tem questionado as estratégias fiscais adotadas, acusando o governo de aplicar uma agenda neoliberal em detrimento das necessidades sociais mais urgentes.
No entanto, o governo de Milei também tem recebido apoio de investidores e analistas econômicos que acreditam que as reformas fiscais e o foco no controle da inflação podem, no longo prazo, colocar a economia argentina no caminho da recuperação. A Fitch elevou a nota de crédito, o que os mercados interpretam como um sinal de que começam a dar mais crédito às intenções de estabilização do governo, embora os riscos permaneçam elevados.