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Epidemia: Brasil já tem 52 milhões de apostadores em bets

O Brasil enfrenta um aumento preocupante nas apostas online, especialmente entre populações de baixa renda, e o governo intensifica esforços para regulamentar e controlar a indústria

Arte: GDI
Arte: GDI

Em um cenário de crescente popularização das apostas online no Brasil, figuras de destaque como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, expressaram preocupação com os impactos negativos que essa indústria vem gerando. Durante a Assembleia Geral da ONU, em setembro, Lula destacou o aumento do vício em jogos de azar, especialmente entre as populações mais vulneráveis, com foco nas apostas eletrônicas.

Este crescimento alarmante das apostas online no Brasil, que agora atinge 52 milhões de jogadores, é acompanhado de perto por autoridades que buscam estratégias de controle. De acordo com dados do Banco Central, entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões foram gastos mensalmente em apostas em 2024 até agosto. Uma parte significativa desses gastos vem de famílias de baixa renda, que enfrentam altos índices de pobreza e um aumento nas dívidas relacionadas ao consumo de crédito. No entanto, a acessibilidade das plataformas de apostas online, aliada a altas taxas de juros de crédito, tem criado um cenário de risco para a população mais vulnerável.

Crescimento e Impactos Econômicos

O impacto das apostas online vai além das estatísticas de usuários. Um estudo recente revelou que 20% do dinheiro distribuído por meio do Bolsa Família, programa assistencial do governo, foi gasto em sites de apostas. Esse dado causou grande alarde entre as autoridades, que estão cada vez mais preocupadas com o risco de um “coquetel explosivo”, como o descreveu Daniel Dias, professor da Fundação Getulio Vargas. A combinação da pobreza com o acesso a empréstimos, que podem cobrar juros anuais de até 438%, tem aumentado as chances de que os brasileiros busquem, na sorte, a oportunidade de uma virada financeira.

Em resposta a esses dados, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterou que é “realmente preocupante” o crescente número de apostadores entre as classes sociais mais baixas. Além disso, o uso crescente de cartões de crédito para financiar apostas exacerbado pela elevada taxa de juros no Brasil, que pode ultrapassar 1.000% ao ano em algumas instituições financeiras menores, é outro fator que acende o sinal de alerta.

Regulamentação e controles: medidas emergenciais

Para lidar com o problema, o governo brasileiro intensificou esforços para regular a indústria de apostas online. O Ministério da Fazenda, por exemplo, antecipou para janeiro de 2025 o prazo para que as empresas de apostas apresentem toda a documentação necessária para operar legalmente no Brasil. A partir dessa data, as autoridades poderão adotar medidas mais rigorosas, como limitar os valores apostados, monitorar transações financeiras e bloquear plataformas suspeitas de envolvimento com lavagem de dinheiro.

Além disso, o governo busca proibir o uso de cartões de crédito para depósitos em plataformas de apostas e restringir a publicidade da indústria. Essas ações visam diminuir os impactos econômicos e sociais negativos causados pelo vício em jogos, que afeta, especialmente, as famílias em situação de vulnerabilidade.

Desafios jurídicos e apelos à regulamentação

Enquanto o governo busca aumentar a regulamentação, a Procuradoria-Geral da República solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que revisasse a legislação sobre jogos de azar, argumentando que ela é “insuficiente para proteger os direitos fundamentais” dos consumidores. O ministro do STF, Luiz Fux, já determinou medidas provisórias para proibir beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família, de realizarem apostas online.

Em contrapartida, a Associação Nacional de Jogos e Loterias, que representa uma parte significativa da indústria de apostas, defende que a regulamentação é necessária, mas alertou que qualquer tentativa de proibição total das apostas poderia gerar “incertezas jurídicas” e “prejuízos à sociedade”.

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