- As explosões em Brasília, que resultaram na morte de um homem em frente ao STF, dificultam a aprovação da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro
- O episódio aumenta o cansaço entre o “centrão” com pautas da extrema-direita e contribui para o afastamento de lideranças do ex-presidente
- A explosão em Brasília enfraquece os planos de Bolsonaro para recuperar seus direitos políticos e disputar a presidência em 2026
Na noite de quarta-feira (13), duas explosões registradas na Praça dos Três Poderes, em Brasília, colocaram um novo obstáculo nas discussões políticas sobre a anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. O episódio, que resultou na morte de Francisco Wanderley Luiz, apontado como autor dos ataques, pode ter repercussões negativas para a agenda de concessão de perdão aos participantes da invasão das sedes do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). A avaliação é do analista político Ricardo Ribeiro, das consultorias MCM e LCA.
Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Civil, o autor do atentado, identificado como Francisco Wanderley Luiz, tentou acessar o Supremo Tribunal Federal (STF) antes de realizar a explosão. De acordo com testemunhas, ele foi abordado por um vigilante enquanto portava artefatos explosivos e, após ameaçar os seguranças, deitou-se no chão e detonou o segundo dispositivo, causando sua própria morte. O incidente trouxe à tona novamente a lembrança dos episódios do 8 de janeiro, quando uma onda de violência golpista varreu o centro de Brasília, culminando na invasão dos prédios da Praça dos Três Poderes por manifestantes radicalizados.
Enfraquecendo a pauta bolsonarista
Ricardo Ribeiro argumenta que as explosões e a retomada do tema dos atos golpistas devem prejudicar as chances de aprovação da anistia para os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro. Segundo ele, a opinião pública tende a se afastar da ideia de perdão para os golpistas, principalmente após a tragédia da noite de quarta-feira, o que gerará dificuldades para as lideranças políticas, especialmente no chamado “centrão”, que veem a medida com ceticismo.
“É um exagero dizer que a anistia acabou de vez, mas as explosões certamente enfraquecerão o apelo popular em favor do perdão e reduzirão a disposição dos políticos do centrão de apoiar a agenda bolsonarista. Com isso, diminui também a possibilidade de Bolsonaro ser anistiado pelo Congresso”, afirmou o analista.
O impacto dos atentados de ontem pode também prejudicar a recuperação de direitos políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro, que segue inelegível devido à decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após suas ações no pleito de 2022. De acordo com Ribeiro, o episódio das explosões contribui para o desgaste da imagem do ex-presidente e de sua base política, afastando ainda mais a possibilidade de uma candidatura bolsonarista para as eleições presidenciais de 2026.
Rejeição ao Bolsonarismo
Ribeiro observa que, além de dificultar a proposta de anistia, o atentado na Praça dos Três Poderes aprofunda o sentimento de “cansaço” que já começa a se espalhar entre os integrantes do centrão em relação a pautas vinculadas à extrema-direita, como o impeachment de ministros do STF, as discussões sobre aborto e gênero, e a própria questão da anistia. Esse cansaço já havia sido notado com o distanciamento de parte dos parlamentares de algumas bandeiras bolsonaristas, e o episódio de quarta-feira deve agravar essa tendência.
“Com o avanço do desgaste causado pelos atentados e a crescente insatisfação do centrão com as pautas extremistas, surge uma tendência de afastamento em relação ao bolsonarismo, o que pode beneficiar outras candidaturas nas eleições presidenciais de 2026”, analisa Ribeiro.
A maior favorecida seria, segundo o analista, a candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que já vinha ganhando força dentro de setores do centrão, especialmente entre aqueles que buscam uma alternativa ao ex-presidente.
O impacto no cenário eleitoral de 2026
A análise de Ribeiro aponta que o afastamento do centrão em relação ao bolsonarismo pode abrir espaço para novas alternativas no campo da direita, com Tarcísio de Freitas se consolidando como um potencial candidato competitivo em 2026. O governador paulista, até então considerado uma promessa política em ascensão, pode ver sua candidatura se fortalecer caso o apoio ao ex-presidente Bolsonaro continue a perder força.
A dinâmica política para as eleições de 2026 ainda é incerta, mas a tendência de distanciamento do bolsonarismo pode ser uma das principais forças a impulsionar as campanhas de outros nomes, como Tarcísio, que, segundo o analista, não vê Bolsonaro como um obstáculo em sua trajetória para o Planalto.