A Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, anunciou a venda de 900 mil toneladas de cana-de-açúcar para a Usina Alta Mogiana, localizada em São Joaquim da Barra (SP), no valor de R$381 milhões. A operação tem como objetivo reduzir a dívida da companhia, que registrou um prejuízo líquido ajustado de R$96,7 milhões no segundo trimestre da safra 2024/25, conforme balanço divulgado ontem.
O negócio será responsável por transferir tanto a cana própria da Raízen quanto contratos de fornecedores terceirizados. A operação tem como foco a região de Ribeirão Preto (SP), um dos locais mais impactados pelos incêndios que atingiram os canaviais entre agosto e setembro. Estima-se que cerca de 6 milhões de toneladas de cana foram afetadas pelos incêndios, representando 7% da previsão inicial para a safra 2024/25.
Prejuízo e aumento da dívida
A companhia, que enfrenta dificuldades na moagem de cana devido aos incêndios, projeta que a moagem total desta safra será de 78,5 a 80 milhões de toneladas, abaixo da expectativa inicial. No entanto, com a venda de ativos, espera-se que a Raízen consiga receber R$300 milhões líquidos ainda nesta temporada.
No segundo trimestre, a dívida líquida da empresa cresceu 13,7% em relação ao trimestre anterior, alcançando R$35,9 bilhões. A alavancagem da companhia também aumentou, subindo de 2,3 vezes para 2,6 vezes entre os dois trimestres. A Raízen explicou que o aumento da dívida é sazonal, resultado do maior consumo de caixa para capital de giro e investimentos em bens de capital (Capex).
Investimentos em sustentabilidade
A Raízen também tem buscado recursos para sustentar seus projetos de sustentabilidade. Emitiu US$1 bilhão em “green bonds” (títulos verdes) no trimestre, com o objetivo de financiar suas iniciativas em etanol de segunda geração (E2G) e outras ações voltadas à redução de emissões de carbono. No total, a empresa investiu R$2,3 bilhões em Capex, um aumento de 3,9% em relação ao ano passado, mas que contribuiu para uma queda de 9% na geração primária de caixa (EBITDA).
Início das operações de etanol celulósico
Além das vendas de cana para a Usina Alta Mogiana, a Raízen também conta com os investimentos em etanol celulósico. A companhia iniciou recentemente os testes e o comissionamento de suas duas novas plantas: a Univalem, em Valparaíso (SP), e a Barra, em Barra Bonita (SP). Ambas as unidades precisam obter licenças e autorizações necessárias, incluindo da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), antes de iniciar a produção.
A Raízen espera que o início das operações ocorra ainda nesta safra 2024/25, e, se as duas plantas entrarem em operação, a capacidade instalada da companhia em etanol celulósico será de 278 milhões de litros. A expectativa é de que o produto seja embarcado para os clientes já contratados.
Em relação aos desafios enfrentados no trimestre, a Raízen destacou a queda nas margens das operações de Mobilidade (refino e distribuição de combustíveis na América Latina) e Renováveis (produção de etanol e energia elétrica), que impactaram negativamente os resultados. Além disso, a empresa mencionou uma maior despesa contábil com imposto de renda.
Com a venda de ativos e o foco na sustentabilidade e eficiência operacional, a Raízen projeta uma recuperação no segundo semestre da safra 2024/25. A empresa segue com a estratégia de reciclagem de portfólio e redução de endividamento, buscando equilibrar seu caixa e aumentar a eficiência logística e agroindustrial em sua operação no “cluster” de Ribeirão Preto.