O real sofreu um impacto significativo na segunda-feira (11), caindo cerca de 1% em relação ao dólar, devido ao adiamento do anúncio das medidas fiscais de contenção de gastos pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A moeda brasileira, que já acumula uma queda superior a 16% no ano, enfrenta uma crescente pressão inflacionária e aumento dos custos de importação.
O enfraquecimento do real ocorre após a expectativa de que o governo brasileiro, liderado por Lula, divulgaria um pacote fiscal para conter o rápido crescimento das despesas obrigatórias. A queda da moeda segue as declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que as medidas seriam anunciadas na semana passada, o que não aconteceu. O adiamento das ações fiscais e a falta de um cronograma concreto para sua divulgação intensificaram as incertezas nos mercados.
A moeda brasileira perdeu 1% de seu valor em relação ao dólar americano, alcançando mais de 16% de desvalorização no acumulado do ano. O real, portanto, continua a ser afetado pela falta de clareza quanto às políticas fiscais, o que aumenta os custos de importação e pressiona ainda mais a inflação interna.
Pressões inflacionárias e falta de medidas claras
As pressões inflacionárias são exacerbadas pela alta do dólar, que, além de aumentar os preços de bens importados, também agrava as expectativas sobre a futura trajetória da inflação no Brasil. De acordo com analistas, um pacote de contenção fiscal seria fundamental para reduzir o prêmio de risco nas taxas de juros de longo prazo e estabilizar a taxa de câmbio, fatores cruciais para o controle da inflação.
Ainda assim, o governo não tem dado uma previsão clara sobre quando as medidas de corte de gastos serão implementadas, e a situação continua a preocupar economistas e agentes do mercado. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem liderado discussões internas sobre os ajustes fiscais, enquanto o presidente Lula realiza reuniões com sua equipe econômica para alinhar as estratégias que envolvem cortes de despesas.
Contexto fiscal: O peso das despesas obrigatórias
Embora o governo tenha aprovado, no ano passado, um novo arcabouço fiscal com metas orçamentárias primárias, a realidade é que certas despesas, como pensões e benefícios sociais, vêm subindo a um ritmo muito mais acelerado do que o crescimento do teto orçamentário, o que pressiona outros itens essenciais, como investimentos e custos operacionais.
O ministro Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, enfatizou a urgência de um pacote de corte de gastos. “Esse pacote de corte de gastos é necessário. Ele tem que acontecer, independentemente de qualquer atraso”, afirmou Meirelles durante um evento em São Paulo. No entanto, ele também expressou preocupações sobre a eficácia das medidas para resolver o problema da dívida pública, que ele classificou como “insustentável” e de difícil controle sem ajustes mais profundos.
Reação do mercado e expectativas futuras
O impacto das incertezas fiscais é claro nas reações do mercado, com investidores mostrando apreensão quanto à sustentabilidade da dívida pública brasileira. Além disso, a possibilidade de um aumento nas taxas de juros de longo prazo e o risco de inflação elevada preocupam analistas econômicos. A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos também é vista como um fator adicional que pode alimentar as pressões inflacionárias no futuro, especialmente no mercado global.
Paulo Gala concluiu que, enquanto um pacote fiscal poderia amenizar parte das incertezas, o Brasil precisa de uma abordagem mais sólida para garantir a estabilidade fiscal a longo prazo. “A vitória de Trump pode colocar mais pressão na inflação global, o que também afeta as projeções para o Brasil”, afirmou o economista.