A 10ª edição da pesquisa KPMG CEO Outlook revelou que 83% dos CEOs esperam um retorno total ao escritório nos próximos três anos, expectativa que desafia o cenário atual do mercado de trabalho, especialmente no setor de tecnologia, onde a flexibilidade e o trabalho remoto são altamente valorizados. Uma das estratégias das lideranças para incentivar a volta é a oferta de aumentos salariais, promoções ou novas responsabilidades. De acordo com a pesquisa da KPMG, 87% dos CEOs planejam recompensar os funcionários que retornarem ao escritório.
Gustavo Salles, especialista em recrutamento há uma década e CEO da SalesHunter — startup especializada no recrutamento de vendedores SaaS e B2B — alerta que essa estratégia pode ser insuficiente para reter os profissionais habituados ao trabalho remoto.
“Se a empresa não for transparente sobre suas expectativas, pode gerar insatisfação e levar talentos a buscarem outras oportunidades que ofereçam a flexibilidade que valorizam”, afirma.
Para Salles, a preferência das lideranças pelo modelo presencial não deve ser vista como uma regra rígida, mas sim como uma estratégia que pode variar conforme o perfil das equipes e os objetivos da empresa. “Muitos CEOs e clientes estão percebendo uma queda de produtividade em equipes compostas por profissionais mais jovens e menos experientes, para quem o contato diário com os colegas e mentores faz uma diferença enorme na curva de aprendizado”, explica. O especialista destaca que o ambiente presencial facilita a troca de conhecimento, a integração das equipes e o desenvolvimento profissional.
“Para talentos em início de carreira, a presença física no escritório proporciona um aprendizado mais rápido e mais conexão com a cultura da empresa”, acrescenta.
Apesar da grande expectativa pelo retorno total, Salles acredita que o modelo híbrido é a melhor solução para muitas empresas, pois equilibra a necessidade de flexibilidade dos colaboradores com as demandas de produtividade e colaboração.
“A flexibilidade é, para muitos profissionais, o benefício mais importante. Empresas que insistirem no trabalho 100% presencial podem perder talentos para aquelas que oferecem um modelo mais equilibrado”, avalia.
Além das questões de flexibilidade, o levantamento também destacou a preocupação dos CEOs com a escassez de profissionais qualificados e a aposentadoria iminente de talentos experientes. Para o especialista, a solução está na capacitação contínua e no desenvolvimento de novos profissionais.
“Investir em programas de formação desde o início é essencial para preparar talentos para o mercado e evitar a dependência excessiva de profissionais sêniores, que muitas vezes são atraídos por oportunidades internacionais”, ressalta.
Com 92% dos CEOs projetando um aumento de contratações nos próximos anos, Salles observa uma tendência de busca por qualidade e especialização, em vez de apenas volume. “As empresas estão se tornando mais criteriosas, focando na contratação de profissionais que possam agregar valor e ajudar a construir uma equipe sólida para o futuro”, conclui.