O mercado de capitais brasileiro está crescendo, com números cada vez maiores de investidores na B3. Por consequência, o investimento em ações se populariza cada dia mais. Aprenda então a seguir a como analisar uma ação.
Entretanto, sabemos que o processo de investimento em determinada empresa (por meio da compra de suas ações) não é tão simples assim. Bom, é relativamente simples abrir seu home broker e lançar uma ordem compra. Todavia, o processo de análise é o que irá definir se você fará uma boa decisão.
Hoje, no mercado acionário brasileiro, temos mais de 400 empresas listadas. Esse valor não chega perto do tamanho do número visto no mercado norte-americano, mas sim, é um número considerável. Por isso, a necessidade de fazer uma boa análise para escolher as melhores empresas, e claro, passar longe daquelas que não valem seu investimento.
Índice de conteúdo
Os tipos de análise
Quando falamos sobre análise de uma ação, nos referimos a duas maneiras distintas de analisar: a técnica e a fundamentalista.
A análise técnica é baseada na avaliação de aspectos gráficos e técnicos, além do volume de negociação, para definir quando é o momento exato de compra e venda de um ativo.
Por outro lado, a análise fundamentalista engloba o estudo dos resultados financeiros da companhia. Além disso, da situação macroeconômica, da gestão da companhia e vários outros fatores.
Dessa forma, podemos destacar grandes investidores que se utilizam dessa análise, como Warren Buffet e Luiz Barsi. Ademais, inúmeros gestores de recursos também fazem uso da filosofia.
Aqui neste pequeno guia usaremos a análise fundamentalista para destacar os 5 pilares de uma boa análise.
Benjamim Graham
Benjamim Graham foi o grande precursor da análise fundamentalista. De acordo com ele, o preço de uma ação deve refletir a expectativa de lucro futuros. Ou seja, tendo em vista seu fluxo de caixa em determinado momento.
Dessa forma, o objetivo era buscar indicadores de sucesso futuro, para identificar empresas com alto potencial de crescimento e valorização.
Além disso, Warren Buffet, multibilionário e aluno de Graham, popularizou todo o racional. Assim sendo, ficou conhecido pela estratégia de buy and hold, que consiste em analisar e se manter comprado em uma ação por longos anos.
Os 5 pilares de uma boa análise
Há inúmeras coisas a se analisar quando decidimos investir nosso dinheiro em uma determinada ação. Devemos olhar, primeiramente, o cenário macroeconômico e tentar entender como ele influencia no desempenho da empresa. Isto é, olhar pontos chaves como:
- Nível de atividade (PIB, emprego, renda)
- Inflação (que influencia o preço dos ativos e o poder de compra)
- Taxa de juros (para servir de base em uma análise de custo de oportunidade na renda fixa)
- Taxa de câmbio (que também influencia no preço de ativos)
Além disso, o que de fato interessa para avaliação específica de uma empresa: a análise histórica do desempenho econômico-financeiro da mesma. Isto é, a análise do balanço patrimonial, o demonstrativo de resultados e também seu fluxo de caixa.
Mas o que realmente importa no meio de tantos números?
Bom, quanto mais dados utilizados em sua análise mais eficiente, completa e profunda ela será. Dessa forma, dando mais segurança no investimento e mais conhecimento acerca do business da empresa que você está investindo.
Entretanto, como este é um guia rápido, irei abordar apenas alguns pontos que considero indispensável no momento de analisar uma ação. São eles:
- A lucratividade;
- O endividamento;
- O crescimento;
- A governança corporativa;
- E, por fim, o preço.
Todos os dados utilizados em cada um desses pontos podem ser encontrados nos sites de RI (Relações com Investidores) das empresas e também no site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
A lucratividade
Pode parecer óbvio, mas ninguém quer uma empresa que dê prejuízo. Portanto, ter consciência da lucratividade/rentabilidade da companhia é necessário.
Há algumas formas de medir a lucratividade de determinada empresa. Todavia, iremos olhar apenas para três valores: o ROE, o ROIC e a margem líquida.
ROE
É impossível que você nunca tenha ouvido falar do ROE caso você já tenha começado a estudar sobre ações. O ROE (return on equity) ou em português, “retorno sobre o capital investido” nos mostra o retorno sob o capital do acionista.
Dessa forma, para calcularmos o ROE de uma empresa basta pegarmos seu lucro líquido/patrimônio líquido.
Mas, como sabemos que esse indicador está bom ou ruim?
Simples, basta comparar com outra empresa do mesmo setor e tirar suas conclusões. Sim, as empresas devem ser do mesmo setor, pois não faria sentido comparar com uma empresa que tivesse uma operação diferente, cujo lucro é afetado por outras coisas.
Portanto, se pagarmos uma empresa “A” e uma empresa “B”, do mesmo setor, e elas apresentam um ROE de 15% e 20%, respectivamente, a empresa “B” remunerou melhor seus acionistas. Ou seja, nos últimos 12 meses, por exemplo, o equity (capital dos acionistas) cresceu 20%.
ROIC
Além disso, temos o ROIC (return on invested capital) ou em português, “retorno sobre o capital total investido”. Diferentemente do ROE, que considera o retorno aos acionistas, o ROIC leve em conta também o capital de terceiros.
Para calcularmos o ROIC, devemos dividir o NOPAT (EBIT – imposto de renda) pelo capital total investido. Dessa forma, o ROIC mostra o quanto a companhia consegue gerar com todo seu capital.
Portanto, ambos (ROE e ROIC) são complementares, e quando olhados numa análise, permite uma melhor compreensão da capacidade de geração de valor de uma empresa.
Veja a diferença na prática entre ROE e ROIC.
Margem líquida
Esse é um dos mais importantes indicadores de lucratividade de uma empresa, com base no lucro líquido. Ela representa a porcentagem de lucro em relação às receitas da empresa.
Dessa forma, para obtermos a margem líquida de uma empresa basta dividirmos seu lucro líquido por sua receita líquida do período analisado.
Portanto, serve como um indicador de competitividade, pois mostra o quanto de lucro cada real recebido gerou. E assim, serve para comparamos empresa por empresa.
Endividamento
Além de olhar para a lucratividade de uma empresa, é de suma importância que tenhamos conhecimento de sua saúde financeira. Isto é, se a empresa possui muitas dívidas.
Dessa forma, há várias maneiras de olharmos para as dívidas de uma empresa. Hoje, te mostrei três formas: dívida líquida/EBITDA, liquidez corrente e também liquidez seca.
Esses indicadores, cada um com sua particularidade, nos permite ter uma visão sobre o endividamento da empresa.
Dívida Líquida/EBITDA
A dívida líquida de uma empresa nada mais é do que o somatório do volume empréstimos e financiamentos menos o caixa e equivalentes de caixa. O EBITDA, por sua vez, mede a geração de caixa da empresa.
Portanto, a dívida líquida/EBITDA mostra a alavancagem da companhia. Assim sendo, mostra em quantos anos levaria para pagar sua dívida líquida usando sua geração de caixa.
Dessa forma, uma empresa que tem uma dívida líquida de R$ 100 milhões e um EBITDA anual de R$ 50 milhões, levaria dois anos para pagar tal dívida. Ou seja, sua dívida líquida/EBITDA = 2x. Simples não?
Liquidez corrente e Liquidez Seca
A liquidez corrente é uma métrica muito interessante para saber se a companhia tem capacidade de honrar suas obrigações de curto prazo.
Para calcular essa capacidade basta dividir o ativo circulante pelo passivo circulante – ambos encontrados no balanço patrimonial.
Portanto, caso a liquidez corrente seja igual a 1, significa que ambos os circulantes são iguais. Caso seja maior que 1, significa que o ativo é maior do que as suas obrigações de curto prazo. E caso seja menor do que 1, significa que seu ativo é menor no que seu passivo.
Desse modo, quanto maior a liquidez corrente de uma empresa melhor.
Além disso, temos a liquidez seca, que é muito parecida com a liquidez corrente, só que sem o estoque. E por que é importante subtrairmos o estoque? Porque nem todas as companhias conseguem vender todo seu estoque para honrar obrigações de curto prazo.
Ou seja, é mais interessante usar a liquidez seca invés da corrente em muitos casos, como na análise de empresas do varejo.
E claro, a lógica é a mesma: maior que 1, bom, menor que 1 não.
Crescimento
Quando compramos uma ação, nos tornamos sócios da empresa. Assim sendo, a expectativa é que a empresa cresça, aumente sua lucratividade, seu market share entre outros.
Portanto, ter conhecimento sobre o crescimento da empresa ajuda na criação de projeções futuras. Hoje, iremos abordar dois indicadores de crescimento: o CAPEX/depreciação e o CAGR.
CAPEX/Depreciação
Primeiramente, é o que é o CAPEX? CAPEX é a abreviação para capital expenditure, isto é, o investimento para compra de bens de capital.
Queremos uma empresa que reinvista nela, para melhorar o seu desempenho e favorecer seu crescimento. Dessa forma, é esperado que esse investimento seja superior à depreciação dos bens de capital adquiridos com esse investimento.
Ou seja, quando pegamos o CAPEX e dividimos pela depreciação, esse valor tem de ser maior que 1. Pois, caso seja inferior a 1, a empresa está investindo menos do que o avanço de sua depreciação.
CAGR
Esse é indispensável e provavelmente você já ouviu falar dele.
O CAGR (compound anual growth rate) nos mostra exatamente a taxa composta anual de crescimento. Todavia, o CAGR não representa um retorno real, e sim um número fictício que estima o crescimento se o mesmo fosse constante.
Para calcularmos o CAGR usamos três variáveis: valor inicial do investimento, valor final do investimento e o período do investimento. Além disso, como é uma taxa de crescimento anual composta, o período será medido em anos.
Dessa forma, temos a fórmula: CAGR = (VF/VI)^1/n – 1.
Com o CAGR, podemos medir o crescimento de vários pontos da empresa, como o lucro líquido e EBITDA. Portanto, para exemplificar, digamos que uma empresa tenha registrado um EBITDA de R$ 1 bi no primeiro ano e de R$ 3 bi no quinto ano.
Assim sendo, a taxa de crescimento anual do EBITDA da companhia foi de:
CAGR: (3/1)^1/5-1 = 24,6% a.a.
Entretanto, o CAGR possui uma parte ruim bem grave: ele não contabiliza a retirada ou adição de mais investimento durante o período. Dessa forma, se a companhia injeta recursos durante o período, o indicador vai ser inflacionado.
Como ele calcula apenas o saldo inicial e final, caso ocorra aplicação (ou remoção) de recursos no período, o cálculo estaria errado.
Governança Corporativa
Esse não é um ponto quantitativo, mas não menos importante.
Como dito anteriormente, quando se investe em uma empresa, o investidor se torna sócio da mesma. Dessa forma, é interessante pensar que os executivos da empresa também possuam ações dela. Isso passa uma confiança maior, pois aquela pessoa, que toca o business, confia no negócio.
Mas, como saber se os executivos da companhia possuem ou não ações dela? Simples, no site da CVM, e até mesmo na parte de RI dos sites da companhia. Isso é o que chamamos de CVM 358.
Além disso, temos o famoso Tag Along, que é uma ferramenta de segurança garantida aos acionistas minoritários de uma companhia. Dessa forma, os acionistas podem deixar a sociedade caso o controle da empresa passe para um novo investidor, que anteriormente não participava do negócio.
Com o tag along, quando uma empresa é vendida, o comprador deve pagar pelo menos 80% do valor de cada ação ao acionista minoritário. Assim sendo, se a companhia for vendida por R$ 100 por ação, o novo controlador deve oferecer pelo menos R$ 80 por ação aos acionistas minoritários.
Entretanto, vale dizer que a venda por parte do acionista minoritário é opcional. E que o tag along só é garantido aos acionistas ordinários (ON).
Preço
Por fim, o último ponto: o preço. Certamente você sabe analisar e comparar preços, mas com uma ação o racional é diferente.
Quando olhamos o preço de uma ação, não é simplesmente o valor monetário por cada uma, mas sim qual está mais barata em relação ao valor que gera para você. Lembrando mais uma vez que, toda comparação deve ser feita apenas entre empresas do mesmo setor.
Bom, existe várias formas de calcular o preço de uma ação, e hoje mostrarei duas: o P/L e o EV/EBITDA.
P/L
O P/L é uma ótima forma de medir o preço de uma ação, pois mostra em quanto tempo uma empresa paga seu investimento por meio do seu lucro.
Assim sendo, para calcular o P/L de uma empresa é simples, basta pegar o preço da ação e dividir pelo lucro por ação. Ou então, dividir o valor de mercado da companhia pelo lucro líquido da companhia.
Dessa forma, uma companhia que possui valor de mercado de R$ 100 bi e um lucro líquido de R$ 10 bi terá um P/L de 10. Ou seja, em 10 anos o investimento é pago apenas com o lucro líquido da companhia.
Com isso, conseguimos analisar qual ação está mais barata de acordo com o tempo que ela recupera o investimento feito.
EV/EBITDA
Além disso, temos o EV/EBITDA, que é bem parecido com o P/L mas apresenta algumas vantagens, e é comumente usado por analistas de valores mobiliários.
Esse indicador elimina efeitos que não afetam o caixa da empresa – que ocorrem geralmente após apuração do EBITDA.
Diferentemente do P/L, que usa o valor de mercado da companhia, o EV/EBITDA usa o enterprise value (ou “valor de firma” em português), que é o valor de mercado + a dívida líquida da empresa. E também difere na divisão, enquanto o P/L usa o lucro líquido, esse indicador usa o EBITDA.
Dessa forma, nos mostra em quanto tempo apenas a geração de caixa da companhia (o EBITDA) demoraria para pagar por todos os ativos da companhia.
Conclusão
Há inúmeros outros pontos a serem levados em consideração no momento de analisar de uma ação. Entretanto, com esse guia básico, seu entendimento sobre o assunto já o permite progredir em seus estudos e ter uma melhor compreensão de uma boa análise, pautada nos cinco pilares apresentados.
Aqui no Guia do Investidor, você tem acesso a uma ferramenta muito interessante que irá auxiliar suas análises: os fundamentos. Com ele, você pode ver todos esses indicadores de forma consolidada em uma única página e ter ainda mais agilidade na hora de analisar uma ação e escolher sozinho qual a melhor para investir.
Nós compartilhamos da ideia de que o investimento a longo prazo é a melhor opção, pois nos força a investir em empresas realmente boas, pois estamos focados na ideia de sócios.
Por fim, gostaria de lembrar que isto não se trata de uma recomendação, pois apenas analistas de valores mobiliários certificados podem realizar tal função. Isto é apenas uma publicação com fins educacionais, que visa ajudar o pequeno investidor. E por isso, não foi usado nenhum exemplo real de uma empresa listada em bolsa.