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2023 é o novo 2008? O Mercado financeiro vai colapsar?

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2023 é o novo 2008? Essa é a pergunta que muitos investidores estão fazendo, preocupados com a possibilidade de um colapso no mercado financeiro. No entanto, de acordo com a análise feita por um analista da Nord Research, a situação atual é bem diferente daquela que ocorreu em 2008 com a crise do Subprime.

Embora o mundo ainda esteja sentindo os impactos da pandemia, com pressões inflacionárias e elevação dos juros, o cenário macroeconômico não é o principal problema atualmente. Nos casos vistos recentemente nos EUA e na Europa, os problemas internos foram muito mais danosos do que o cenário macroeconômico em si.

Já era possível, inclusive, ver que algumas instituições financeiras traziam indícios de que algo estava errado internamente, como as ações do Credit Suisse que acompanhavam de perto as fortes quedas em seus resultados. No entanto, as autoridades monetárias agiram rapidamente para evitar uma crise ainda maior, garantindo a cobertura de 100% dos depósitos que os clientes tinham no banco.

No Brasil, apesar do aumento generalizado de inadimplência no setor financeiro, os investidores também podem ficar tranquilos, já que a situação nas instituições financeiras no país segue sustentável. Existe uma grande concentração de clientes em cerca de apenas cinco grandes instituições, que seguem capitalizadas, com resultados em bons patamares e índices de basileia controlados.

Portanto, mesmo que vejamos suas ações sendo impactadas no curto prazo por conta de um mau humor do mercado, muitos bancos brasileiros (e internacionais) seguem entregando boas perspectivas para seus acionistas. É importante salientar que não se deve comprar qualquer banco no Brasil, mas os grandes bancos que possuem uma saúde financeira satisfatória não aparentam trazer grandes riscos de uma crise sistêmica no país, pelo menos não neste momento.

O que foi a crise do Subprime?

A crise do subprime, chamada por muitos de “bolha imobiliária americana”, teve seu início a partir da forte queda do índice Dow Jones em julho de 2007, motivada pela hipótese do colapso hipotecário, que arrastou várias instituições financeiras americanas para a situação de insolvência.

Nessa época os chamados empréstimos hipotecários podres, ou “subprime mortage” (que nomeia a crise), eram concedidos de forma irresponsável, culminando em uma crise de crédito através da transferência desenfreada de CDSs (Credit Defaut Swaps) e CDOs (Collateralized Debt Obligation) para terceiros, repassando assim os riscos para outras contrapartes.

Por consequência, o dia 15 de setembro de 2008 foi considerado o marco da crise, conhecido como segunda-feira negra, quando um dos maiores bancos dos EUA declarou falência.

Até então, a instituição, de 164 anos, figurava como o quarto maior banco de investimento dos Estados Unidos. E contava com 25 mil funcionários em todo o mundo.

Apesar do início da crise financeira ser associada à falência do Lehman Brothers, o problema teve origem bem antes.

Desde o final da década de 1990, o mercado imobiliário americano estava aquecido pela forte oferta de crédito.

Entre 2003 e 2004, o Lehman adquiriu cinco credores hipotecários. Isto porque uma grande bolha imobiliária americana estava em expansão.

Os empréstimos eram feitos aos mutuários sem documentação completa, de modo que o negócio imobiliário do Lehman permitiu alavancar as receitas da companhia.

Em 2006, o banco securitizou US$ 146 bilhões em hipotecas, um aumento de 10% em relação a 2005. Além disso, o Lehman Brothers reportou lucros recordes todos os anos entre 2005 e 2007.

Para se ter uma ideia, em fevereiro de 2007, o preço das ações do Lehman atingiu o recorde de US$ 86,18 por ação, dando-lhe uma capitalização de mercado de quase US$ 60 bilhões.

Entretanto, ainda no primeiro trimestre de 2007, o mercado imobiliário dos EUA começava a dar sinais de que iria ruir em breve. Isto porque a inadimplência em hipotecas subprime atingia números cada vez maiores.

Em 14 de março de 2007, um dia após a ação ter a maior queda diária em cinco anos, o Lehman reportou receitas recordes em seu primeiro trimestre fiscal.

Após a divulgação dos resultados, o banco declarou que os riscos decorrentes do aumento da inadimplência estavam bem controlados e teriam, então, pouco impacto nos ganhos da empresa.

Ações caem 94,25% em um dia

Três dias depois, em 17 de março, havia o temor de que o Lehman seria o próximo banco de Wall Street a quebrar. Isso após o quase colapso de outra instituição, o Bear Stearns. As ações do Lehman caiu quase 48%.

O que antes representava só rumores do mercado sobre uma possível quebra, em 15 de setembro de 2008 se tornou realidade. E o Lehman Brothers decretou falência.

No dia em que um dos mais tradicionais bancos americanos quebrou, o S&P 500 caiu 4,71%, o Dow Jones desabou 4,42% e o Nasdaq Composite recuou 3,60%.  Ao mesmo tempo, as ações do Lehman Brothers caíram 94,25% no pregão da bolsa de Nova York. No Brasil, a bolsa derreteu 7,59%.

Dias após a esse cenário, o secretário do Tesouro americano à época, Henry Paulson e o então presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, se reuniram com líderes do Congresso para alertar que os mercados de crédito estavam à beira de um colapso.

As autoridades apresentaram um plano de resgate financeiro avaliado em US$ 700 bilhões para resgatar os bancos, o que permitiria ao Tesouro comprar ações de instituições com problemas e estabilizar o mercado.

No entanto, em 29 de setembro de 2008, o plano foi rejeitado pelo Congresso dos Estados Unidos, afundando ainda mais o já deprimido sistema financeiro mundial.

A partir do momento que o mercado percebeu que as grandes instituições não iriam conseguir escapar deste risco de crédito que estava sendo repassado, a bolha estourou.

O que aconteceu com as bolsas?

Neste mesmo dia, o Dow Jones perdeu 777,68 pontos, queda de 6,71%, a maior desde que o índice foi criado. Já o índice Nasdaq caiu 199,61 pontos, recuando 9,14%.

No Brasil a situação não foi diferente, e a crise desencadeou 5 “circuit breakers” que representa um mecanismo de defesa de mercado, onde a bolsa de valores simplesmente fecha para evitar ainda mais quedas em um mesmo pregão. Isto serve para evitar que o “efeito dominó” se espalhe pelo mercado.

File:Efeito domino web.gif - Wikimedia Commons

Dessa forma, no dia 29 de setembro de 2008, a bolsa de valores de São Paulo chegou a cair mais de 10% em um só dia, e teve suas operações interrompidas.

  • 1º circuit breaker: em 29 de setembro, a Bolsa brasileira fechou em queda de 9,36%, após despencar 13,82%;
  • 2º CB: em 6 de outubro, a Bolsa fechou negativa em 5,43%, após despencar 15,50%;
  • 3º CB: em 10 de outubro, o pregão foi encerrado com queda de 3,37% no índice Ibovespa, após despencar 10,36%;
  • 4º CB: em 15 de outubro, a bolsa encerrou o dia em queda de 11,39%, após derreter 14,81%;
  • 5º CB: em 22 de outubro, o índice Ibovespa encerrou o dia em queda de 10,18%, após afundar 10,28%.

As consequências aqui no Brasil

Apesar da bolsa de valores de São Paulo ter sofrido bastante com o reflexo da crise lá fora, alguns economistas garantem que o Brasil estava praticamente imune à crise. Mas não foi isso que vem sendo observado ao longo do tempo.

Todavia, as exportações, grande fonte de riqueza para o país, tenderam a sofrer imediatamente os efeitos da crise lá fora, impactando a balança comercial brasileira, e consequentemente o PIB.

Recessão e desemprego são fantasmas da crise que estão presentes até hoje em nosso cotidiano. Empresas faliram, e os efeitos foram sentidos principalmente pelos mais jovens, com o índice de desemprego nas alturas.

História de filme

A maior crise recente do mercado de capitais (até o surgimento da pandemia) não passou batida pela sociedade, e esta história até mesmo rendeu um roteiro de cinema.

O filme ‘A grande aposta’ (the big short em inglês) apresenta a ótica de Michael Burry, um investidor que previu os movimentos do mercado. O investidor analisou corretamente a crise do mercado imobiliário americano, que foi a maior crise econômica do mundo na década de 2000. Não é à toa que o feito de Burry foi imortalizado nos cinemas no filme de 2016, estrelado por Christian Bale.

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O grande apostador Michael Burry, ficou muito popular graças as suas previsões da grande crise. Assim, como o filme se tornou um grande clássico recente, praticamente obrigatório para os amantes do mercado financeiro, a opinião e previsões de Burry também entraram no imaginário dos investidores, e costumam provocar certos alvoroços no mercado.