Passado o impacto inicial do lançamento da oferta pública de aquisição (OPA) para fechamento de capital da Cielo (CIEL3) por Banco do Brasil e Bradesco, analistas de mercado olham para os próximos passos que devem levar à saída da companhia de maquininhas da Bolsa.
O Citi rebaixou a recomendação da Cielo de compra para neutra após a notícia, mas elevou o preço-alvo de R$ 4,70 para R$ 5,40, o que corresponde a um potencial de valorização de 3,30% sobre o fechamento da última terça-feira (6).
As mudanças ocorreram devido ao forte desempenho recente das ações (em janeiro, CIEL3 esteve entre os maiores ganhos do Ibovespa) e ao anúncio da OPA a R$ 5,35 por ação, um valor apenas 6,4% acima do fechamento do papel na segunda-feira. “Embora a oferta ainda deva seguir os ritos de aprovação habituais e possamos ver algumas idas e vindas sobre o preço por parte dos acionistas minoritários, não vemos espaço para uma mudança material em torno do preço anunciado”, afirmam os analistas Gabriel Gusan, Karina Salva Martins, e Maria Guedes, em relatório enviado a clientes, em uma visão distinta da projeção de muitos analistas, que esperam que os bancos controladores tenham que oferecer um preço maior para que a OPA se concretize.
Em teleconferência para comentar os resultados do Bradesco na manhã desta quarta-feira (7), Marcelo Noronha, novo CEO do banco, deu alguns detalhes sobre a operação e estimou o closing da OPA em “uns 150 dias”, avaliando que a maior parte dos acionistas minoritários deve aceitar a proposta a um preço de R$ 5,35 por ação. “É natural que os minoritários possam questionar (o preço), isso faz parte do jogo…Mas eu acho que a maior parte dos minoritários vai aceitar a nossa proposta”.
O BB-BI, em relatório após a divulgação do resultado da Cielo e do anúncio da OPA, recomendou que os acionistas minoritários aderissem à oferta, tendo em vista o prêmio oferecido em relação ao preço de fechamento de segunda (R$ 5,35 contra R$ 5,03 do fechamento do dia 5). Os analistas da casa revisaram o preço-alvo partindo da precificação oferecida pela OPA e ajustando pelo JCP anunciado na segunda (de R$ 0,15 por ação), resultando em R$ 5,20, e mantiveram recomendação neutra para CIEL3.
O que dizem os analistas?
Para os analistas do BB-BI, a Cielo seguiu no 4T23 tendências negativas observadas em trimestres anteriores. “O dilema rentabilidade versus participação de mercado em um ambiente altamente competitivo como o atual parece impor dificuldades no avanço da estratégia da companhia. Os investimentos em força comercial que vêm sendo realizados há alguns períodos parecem pressionar margens com aumento de despesas sem ainda refletir os benefícios esperados com recuperação de base de clientes e de volumes”, avaliaram.
O banco, apesar de ver alguns sinais positivos da companhia, como evolução no yield da receita, boa penetração dos produtos de prazo (ARV e Receba Rápido) e bom desempenho da subsidiária Cateno, manteve ceticismo com os negócios de adquirência da empresa.
Na teleconferência do Bradesco, Noronha disse que a decisão de fazer a OPA da Cielo é por um movimento estratégico. “Nós estamos fazendo isso…para termos a adquirência mais próxima dos dois bancos”, afirmou o executivo, acrescentando que não há nenhum debate envolvendo uma eventual cisão da unidade Cateno, assim como não estão nos planos comprar do BB ou vender ao banco sua fatia na Cielo.
“Não estamos discutindo nada de compra, de venda com o Banco do Brasil…por enquanto é fechar o capital, e ir à luta para brigar por esse mercado”, complementou.
Olhando para 2024, o Citi estima que a Cielo deva reportar lucro líquido de R$ 1,9 bilhão em 2024 e de R$ 2,0 bilhões em 2025. Atualmente as ações estão sendo negociadas a um múltiplo de 7,5 vezes o Preço por Lucro esperado para 2024, calcula o Citi, que reitera que o rebaixamento da recomendação segue o bom desempenho antes e depois do anúncio da OPA.
A Fitch, por sua vez, destacou que a oferta de aquisição é neutra para os ratings da companhia. “O aumento da participação do Bradesco e do BB na nova estrutura acionária da Cielo reforçará a flexibilidade financeira e a vantagem competitiva que a empresa detém no relacionamento com a rede de distribuição de seus acionistas controladores, duas importantes instituições do sistema bancário nacional. A transação também fortalecerá a liquidez da empresa”, avalia.
Atualmente, a Fitch classifica a Cielo com os IDRs (Issuer Default Ratings – Ratings de Inadimplência do Emissor) em Moedas Local e Estrangeira ‘BB+’ e com o Rating Nacional de Longo Prazo ‘AAA(bra)’, todos com Perspectiva Estável.
Se a oferta de aquisições for concluída com a retirada da listagem da Cielo na Bolsa, o Bradesco aumentará sua participação na companhia para 50,01% (dos atuais 30,06%), e o Banco do Brasil, para 49,99% (de 28,65%). “A nova estrutura acionária destaca a importância da Cielo e dos seus negócios para os bancos controladores”, afirma a Fitch, que diz que os ratings da empresa continuam refletindo a sua forte posição na indústria brasileira de meios de pagamento.