De acordo com Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero, posteriormente a um primeiro semestre repleto de desilusões relativas à atividade, com o resfriamento da expansão econômica trimestral na passagem do primeiro para o segundo período (2,2% vs. 0,8%) em função de fatores endógenos e exógenos, o gigante asiático revelou indícios iniciais de estabilização no curto prazo ao surpreender nos dados de agosto e setembro, como demonstram os números abaixo:
- A produção industrial avançou 4,5% em agosto em base anual – mais intensa desde abril –, acima da previsão, e sugere aceleração da atividade fabril ante julho, quando foi verificado crescimento de 3,7%.
- A contração do lucro da indústria acumulado no ano abrandou para 11,7% em agosto, bastante inferior à queda de 15,5% registrada até o mês anterior.
- No confronto anual, houve avanço de 17,2% ante agosto do ano passado, recuperando-se do recuo de 6,7% visto em julho.
- Em referência ao consumo, que tem sido o principal motor econômico na fase mais recente, as vendas no varejo cresceram 4,6% em termos anuais – mais forte desde maio –, superando a estimativa de 3,5% e a alta de 2,5% em julho.
“A recuperação aflorou no último bimestre à medida que o governo intensificou as medidas de estímulos ao crescimento, contudo não foi disseminada. A crise no setor imobiliário – responsável por um quarto do PIB nacional e quase 70% do patrimônio das famílias – continua no balanço de riscos e aparenta persistir por bastante tempo”, explica o especialista.
Segundo ele, as vendas de moradias no país sofreram retração anual de 1,5% nos primeiros oito meses do ano, apontando deterioração em relação à queda de 0,7% acumulada no ano até julho. Ainda, os investimentos no desenvolvimento de projetos imobiliários contraíram 8,8% no mesmo intervalo, aprofundando a redução de 8,5% vista no resultado anterior.
“A natureza heterogênea deste movimento foi notada também nos resultados dos índices dos gerentes de compras (PMI) mais recentes, à vista da discrepância entre o indicador medido pelo governo e pela iniciativa privada, corroborando a tese de que a modesta estabilização ainda não se firmou, com a demanda interna insuficiente, incertezas externas e pressões sobre o mercado imobiliário”, esclarece.
O especialista explica que o Banco do Povo da China anunciou o segundo corte na taxa de compulsório bancário neste ano com o intuito de fornecer apoio à atividade e à forte expansão na concessão de empréstimos observada em agosto, quando foram liberados 1,36 trilhão de yuans (US$ 185,20 bilhões) – bastante acima do total de 345,9 bilhões de yuans visto em julho.
“Em ofício, o BC chinês anunciou a redução de 25 pontos-base para apoiar a liquidez, mas manteve suas principais taxas de juro inalteradas um mês após o minúsculo corte de 10 pontos-base na taxa de juro de referência para empréstimos de curto prazo”, pontua.
Ainda, finaliza afirmando que a manutenção ressalta o dilema enfrentado pelo PBoC, também chamado “triângulo impossível”, no qual precisa estimular a frágil recuperação econômica simultaneamente à estabilização da taxa de câmbio – a moeda chinesa acumula desvalorização superior a 5% ante o dólar neste ano. “O desafio aumenta à medida que dados norte-americanos resilientes e a diferença entre as taxas de juros incentivam a preferência pelo dólar”.