- A Ambev (ABEV3) anunciou uma mudança na sua liderança. Desta vez, nomeando Carlos Lisboa como o novo presidente da companhia a partir do início de 2025
- Lisboa substituirá Jean Jereissati, que ocupou o cargo de CEO desde 2019
- A notícia gerou surpresa entre analistas, mas as expectativas indicam que a transição não resultará em mudanças significativas na estratégia da empresa
A Ambev (ABEV3) anunciou uma mudança na sua liderança. Desta vez, nomeando Carlos Lisboa como o novo presidente da companhia a partir do início de 2025. Lisboa substituirá Jean Jereissati, que ocupou o cargo de CEO desde 2019. A notícia gerou surpresa entre analistas, mas as expectativas indicam que a transição não resultará em mudanças significativas na estratégia da empresa.
Atualmente, Lisboa lidera a região “Middle Americas Zone” (MAZ) na Anheuser-Busch InBev (ABI). A controladora da Ambev, e faz parte do conselho de administração da cervejaria brasileira. Sua experiência em posições estratégicas no grupo reforça, assim, a continuidade das diretrizes empresariais da Ambev, focadas no crescimento sustentável e inovação.
Jean Jereissati, por sua vez, assumirá a liderança da MAZ, substituindo Lisboa. Durante seu mandato na Ambev, Jereissati foi responsável por fortalecer a estratégia de vendas digitais, especialmente com aplicativos voltados para consumidores e lojistas, além de impulsionar o portfólio de marcas premium da companhia.
Opinião dos analistas
Segundo análises da XP, essa rotação de executivos é uma prática comum dentro da cultura organizacional da ABI, o que garante uma transição suave e sem grandes impactos nas operações do dia a dia. Assim, a Ambev deve seguir com suas iniciativas estratégicas, mantendo o foco em inovação, digitalização e expansão no segmento de produtos premium.
“Embora não seja esperada, a ampla experiência de Lisboa, incluindo sua função atual como CEO da maior operação de volume da ABI e cargos anteriores como CMO [diretor de marketing] da Ambev e VP de Marketing para as marcas globais da ABI, sugere continuidade nas iniciativas estratégicas recentes”, apontam os analistas Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak.
Analistas acreditam que a Ambev continuará seus esforços para otimizar o portfólio e fortalecer o reconhecimento de suas marcas sob a nova liderança, prevendo que a mudança de CEO não terá um impacto significativo sobre as ações da empresa.
O Itaú BBA projeta uma transição tranquila, sem efeitos adversos nas operações, e vê a continuidade da estratégia de longo prazo como garantida. Já o Bradesco BBI, embora tenha expressado surpresa com o anúncio, destacou que essa rotação de executivos faz parte da cultura tanto da Ambev quanto da ABI, sendo um processo comum ao longo de suas histórias. Assim, a troca de liderança não representa uma mudança de direção nas práticas da companhia.
“O mandato médio do CEO da Ambev é de 5 anos e o grupo sempre buscou encontrar espaço para executivos de alto desempenho continuarem desenvolvendo suas carreiras”, apontam os analistas.
“Jean está concluindo seu ciclo como CEO da Ambev, sendo a reviravolta que ocorreu na divisão de cervejas do Brasil da empresa como nada menos que impressionante. Durante a gestão de Jean, a cultura da empresa mudou significativamente para uma que adota uma mentalidade mais centrada no consumidor e sob a qual acreditamos que uma abordagem necessariamente mais orientada a longo prazo foi adotada para a construção da marca e para promover uma indústria de cerveja mais forte no país”, avaliou o banco.
O Bradesco BBI aponta que a lucratividade da divisão está abaixo dos níveis históricos. Mas, ressalta que mudanças nas preferências dos consumidores e a maior concorrência tornam inadequado usar essas margens como referência. O banco acredita que o mercado já ajustou suas expectativas com base nas margens atuais.
“Em vez disso, os últimos anos serviram para melhorar materialmente a posição competitiva da Ambev sob esse novo cenário da indústria, com a empresa agora ostentando um portfólio mais forte de marcas, uma participação de mercado recuperada (os volumes de 2024 estão 18% acima do pré-pandemia) e margens que finalmente atingiram o fundo do poço”, avalia o banco.
Os analistas, no entanto, destacam que o sucesso do lançamento da plataforma B2B BEES e do Zé Delivery ajudou a Ambev. Por sua vez, a estreitar seu relacionamento tanto com clientes quanto com consumidores finais.
Liderança, desafios e oportunidades
Em relação a Carlos Lisboa, os analistas do Bradesco BBI ressaltam que, sob sua liderança na MAZ, a divisão registrou crescimento significativo, passando a representar 25% dos volumes totais da ABI e contribuindo com 39% do Ebitda consolidado da empresa, evidenciando seu impacto positivo nos resultados da companhia.
“Sua história no grupo envolve um cenário de marketing e construção de marca, o que acreditamos estar diretamente relacionado aos desafios (e oportunidades) que a Ambev deve continuar a enfrentar. Em 2020, agências de notícias também relataram que Lisboa estaria supostamente na lista para substituir Carlos Brito como CEO da ABI. No passado, investidores questionaram a Ambev por ser principalmente uma exportadora de talentos para a ABI, mas as chegadas de Jean em 2019, Lucas Lira como CFO em 2020 e, agora, Lisboa, também devem mitigar essa resistência anterior”, avaliou o BBI.
De maneira geral, a equipe de análise prevê que a Ambev manterá suas prioridades estratégicas atuais, que têm sido o foco nos últimos anos.
O Goldman Sachs observa que, embora o anúncio de um novo CEO possa ter surpreendido alguns investidores, especialmente considerando as melhorias culturais promovidas pelo atual CEO, a mudança está alinhada com os ciclos de rotação interna típicos da liderança executiva da AB InBev.
“A maior parte dos desafios que prevemos para a Ambev nos próximos 2-3 anos são de fatores externos, como concorrência, câmbio, macro e, finalmente, avaliação, de uma forma que o anúncio faz pouco para mudar nossa visão sobre as ações. Dito isso, o novo CEO assumirá a liderança da Ambev em um momento em que a empresa está avaliando abertamente novas estruturas de capital, e estamos ansiosos para ver como as contribuições de Lisboa de sua gestão na AB InBev e no Grupo Modelo podem impactar esse processo”, aponta o Goldman.
O Itaú BBA e o Bradesco BBI mantêm a recomendação market perform (desempenho em linha com a média do mercado) para ABEV3. Isto, com preços-alvo de R$ 14, indicando um potencial de alta de 7%, e R$ 13, sugerindo estabilidade em relação ao fechamento de terça-feira.