O governo de Javier Milei na Argentina iniciou com uma série de medidas econômicas drásticas, visando combater a crise econômica profunda que assola o país. O novo ministro da Economia, Luis Caputo, enfatizou a necessidade urgente de evitar uma catástrofe econômica, alertando sobre o risco de hiperinflação se as políticas atuais continuassem.
Entre as primeiras ações do governo Milei, destaca-se a suspensão de licitações e a não renovação de contratos de trabalho com o governo que sejam inferiores a um ano. Além disso, haverá um corte significativo de subsídios na energia e nos transportes, bem como a redução das transferências para as províncias. Essas medidas visam atacar diretamente as causas dos desequilíbrios econômicos, em vez de apenas lidar com suas consequências.
Outra medida importante foi a suspensão das propagandas oficiais por um ano e a redução de 34% no número de pessoas indicadas politicamente para cargos públicos. As secretarias federais serão reduzidas de 106 para 54, e o total de subsecretarias cairá de 182 para 140. Em seu primeiro decreto, Milei já havia cortado pela metade o total de ministérios, de 18 para 9, seguindo sua promessa de campanha de encolher o Estado.
A meta do governo é diminuir em 5% do PIB as despesas no próximo ano, equilibrando as finanças públicas e evitando o uso do Banco Central como uma máquina de imprimir dinheiro para sustentar os déficits. Uma das medidas mais impactantes é a desvalorização cambial, com o câmbio oficial passando a 800 pesos por dólar, um aumento de 118% em relação à cotação anterior. Essa desvalorização visa aproximar a cotação com a praticada no mercado paralelo e terá um impacto direto na inflação, que já se aproxima dos 200% ao ano.
Apesar das medidas austeras, algumas políticas sociais para a população mais carente foram mantidas e ampliadas, servindo como um amortecedor social contra a esperada disparada nos preços. Além disso, o governo Milei planeja eliminar os controles do comércio externo após o período de emergência, como a exigência de licenças para a importação.
No cenário internacional, a chanceler Diana Mondino confirmou que a Argentina retomará o seu processo de ingresso à OCDE e não ingressará no bloco dos Brics, como desejava o antigo governo peronista. Milei também abriu negociações com a China para renovar os swaps cambiais, apesar de seus discursos contra a ditadura comunista durante a campanha eleitoral.
Essas medidas refletem uma mudança significativa na política econômica argentina, com um foco claro na redução do déficit e na estabilização da economia. O sucesso dessas políticas será crucial para determinar o futuro econômico da Argentina.
Milei diz que ajuste fiscal é única alternativa para a economia
O recém-empossado presidente argentino, fez seu primeiro discurso na frente do Congresso Nacional, onde foi declarado presidente na manhã do último domingo (10). Em suas primeiras palavras, ele destacou que “hoje se inicia um novo momento em seu país”.
“Hoje começa uma nova era na Argentina. Hoje damos por terminada uma longa e triste história de decadência e começamos o caminho de reconstrução do país”, disse ele.
“Os argentinos, de forma contundente, expressaram uma vontade de mudança que já não tem retorno. Hoje enterramos décadas de fracasso e disputas sem sentido. Hoje começa uma nova era na Argentina, uma era de paz e de prosperidade, de crescimento e de desenvolvimento, de liberdade e de progresso”, destacou.
Para uma multidão de pessoas, que vestiam principalmente a camisa da seleção argentina, Milei falou por cerca de 30 minutos e enfatizou que será preciso paciência da população, porque o ajuste fiscal a ser feito deverá ser difícil no início.
“Não há alternativa possível que não seja o ajuste. Logicamente isso vai impactar no nível de atividade, emprego, salários reais e na quantidade de pobres e indigentes. Haverá inflação, é certo. Mas não é algo diferente do que ocorreu nos últimos 12 anos”.
“Há mais de uma década vivemos com essa inflação. Esse será o último momento ruim para começar a reconstrução da Argentina”, disse ele. “Depois desse ajuste macro que vamos impulsionar, a situação começará a melhorar. Haverá luz no final do túnel”, enfatizou.
Esse ajuste na economia, declarou Milei, será feito essencialmente sobre o setor público: “a única possibilidade é o ajuste. Um ajuste organizado, que entrará com força sob o Estado e não no setor privado. Sabemos que será duro”, falou.
Segundo o novo presidente, a Argentina viveu, em seus últimos anos, uma grave crise e uma grande inflação. “Nenhum governo recebeu uma situação pior do que estamos recebendo.”
“Lamentavelmente tenho que dizer uma vez mais: não há dinheiro.”