O Federal Reserve (FED, o Banco Central dos Estados Unidos) elevou os juros em 0,5%. O aumento, divulgado hoje (14), já era esperado pelo mercado, mesmo após as quatro elevações consecutivas de 0,75%. Segundo o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, sigla em inglês), a mudança na magnitude é necessária para que os integrantes do comitê entendam os efeitos dos juros na economia americana, uma vez que a política monetária demora cerca de seis meses para fazer efeito sobre a atividade.
O FED tem elevado os juros básicos dos EUA desde março. O objetivo é controlar o avanço da inflação, que chegou ao pico de 9,1% em julho. Apesar de ter reduzido para 7,1% em novembro, ainda está bem longe da meta de 2%. De acordo com o diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart XP, André Meirelles, as causas para a elevação dos preços nos EUA estão atreladas tanto a fatores de oferta, quanto de demanda.
“O aumento no preço dos combustíveis e o desarranjo da cadeia de produção durante a pandemia contribuíram para a elevação dos preços, sobretudo de bens de consumo duráveis”, informa o executivo.
Meirelles afirma, no entanto, que os choques de oferta são considerados transitórios, ou seja, não necessitam de uma grande intervenção do Banco Central para serem controlados. Por isso, uma das maiores preocupações é a vacância de vagas no mercado de trabalho, que forçou o aumento dos salários.
“A tendência é contribuir para o desequilíbrio entre oferta e demanda de produtos e, consequentemente, para inflação. Esse fenômeno, que tem impacto sobre a demanda, pode gerar consequências estruturais”, explica o diretor da InvestSmart XP. Meirelles acrescenta que, dessa maneira, o aumento nos juros age para reduzir a atividade econômica e, assim, controlar o avanço nos preços.
Analisando o panorama econômico americano, Meirelles afirma que, por mais que a última taxa de inflação tenha surpreendido positivamente, dados de atividade e trabalho ainda estão em níveis elevados.
“Por isso, por mais que o FED tenha reduzido a magnitude do aumento nos juros hoje, o discurso dos dirigentes deve permanecer com uma postura hawkish, contribuindo para volatilidade que temos enxergado durante os últimos meses no mercado internacional”, diz.
O executivo ressalta que a taxa de juros dos Estados Unidos é considerada, em termos de precificação dos ativos, uma taxa livre de risco. Por isso, seu aumento tende a gerar uma reprecificação para baixo nos ativos de renda variável. Mas, até o momento, as taxas futuras indicam que o mercado já espera uma taxa de cerca de 5% para 2023.
“Isto significa que esses aumentos já devem estar embutidos no preço dos ativos. O que realmente pode impactar significativamente as bolsas mundiais são possíveis surpresas na trajetória dos juros ou uma queda na atividade maior do que o projetado”, conclui Meirelles.