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Brasil silencia sobre eleição suspeita na Venezuela

Em meio à crise pós-eleitoral e à vitória de Maduro, o governo Lula adotou uma postura cautelosa, evitando comentar as denúncias de fraude.

Lula e Maduro
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  • Em meio à crise que se seguiu às eleições presidenciais na Venezuela, com Nicolás Maduro proclamando sua vitória no domingo (28)
  • O governo de Luiz Inácio Lula da Silva adotou uma abordagem mais suave em sua declaração
  • Assim, evitando fazer menção às denúncias de fraude após um longo período de silêncio

Em meio à crise que se seguiu às eleições presidenciais na Venezuela, com Nicolás Maduro proclamando sua vitória no domingo (28), o governo de Luiz Inácio Lula da Silva adotou uma abordagem mais suave em sua declaração, evitando fazer menção às denúncias de fraude após um longo período de silêncio.

Essa postura contrasta com a de outros países sul-americanos, que exigem maior transparência no processo eleitoral. A Argentina, sob a liderança de Javier Milei, chegou a ameaçar não reconhecer o resultado do pleito venezuelano. Evidenciando a tensão regional em torno da situação política na Venezuela.

“O governo brasileiro saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração. Reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados”, diz o Itamaraty por via de nota.

“Aguarda, nesse contexto, a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”, conclui o breve comunicado.

Desde o fechamento das urnas, surgiram alegações de fraude eleitoral na Venezuela. A oposição reporta não ter acesso a 70% das atas eleitorais. E, assim, menciona problemas como sessões de votação abertas além do horário em áreas chavistas e intimidação em zonas opositoras.

O assessor de assuntos internacionais do Planalto, Celso Amorim, enviado a Caracas para representar o governo Lula, afirmou que aguardaria a avaliação dos observadores internacionais autorizados pelo regime. E pediu respeito pelo resultado eleitoral, além de destacar a necessidade de esperar o fechamento completo das sessões de votação.

Posição única frente aos outros países

A posição do governo brasileiro, contudo, é quase isolada na região. Apenas Bolívia, Guiana e Suriname não expressaram preocupações com a apuração e as suspeitas de fraude na Venezuela. Mesmo governos de esquerda, como os de Gabriel Boric no Chile e Gustavo Petro na Colômbia, foram mais críticos em relação a Maduro do que o Brasil.

Desde o retorno do PT ao poder em 2023, o Brasil reatou relações com a Venezuela, após o governo Bolsonaro ter reconhecido Juan Guaidó como o legítimo representante do país e rompido com o chavismo. Sob a liderança de Mauro Vieira e Celso Amorim, o Brasil buscou reconstruir laços com Maduro. Citand, assim, dívidas de US$ 1,27 bilhão das empresas brasileiras com o regime.

O Brasil, dessa forma, também participou dos acordos de Barbados em 2023, que visavam eleições justas na Venezuela e a retirada de sanções. Contudo, Maduro começou a enfraquecer esses acordos, impedindo candidatos da oposição e dificultando o voto de venezuelanos no exterior.

O Brasil manteve uma postura discreta em relação aos abusos de Maduro até março deste ano, quando o Itamaraty finalmente condenou a proibição de Corina Yoris de se inscrever para substituir Maria Corina.

Desde então, Maduro começou a nutrir desconfiança em relação ao governo Lula. Recentemente, ele ironizou o presidente brasileiro, sugerindo que ele deveria “tomar um chá de camomila” para se acalmar. Ainda, após o ditador alertar sobre um possível banho de sangue em caso de derrota nas eleições. Além disso, Maduro criticou o sistema eleitoral brasileiro. Isto, o que levou o Tribunal Superior Eleitoral a suspender a missão que havia sido planejada para observar as eleições na Venezuela.