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Caso Americanas: Entenda o que já mudou com anúncio da Recuperação Judicial

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A Americanas chegou ao seu limite após a descoberta de inconsistências contábeis no balanço fiscal do grupo resultou no pedido de demissão do presidente Sérgio Rial e do diretor de relações com investidores André Covre.

Ambos haviam sido empossados há pouco mais de uma semana, mas anunciaram a decisão de deixar os cargos ao estimar que havia um rombo de R$ 20 bilhões. Segundo cálculos internos da companhia, a dívida total chega próximo à casa dos R$ 40 bi.

Como esperado do mercado, a notícia gerou uma queda bruscas imediata de mais de 70% nas ações da Americanas cotadas na Bolsa de Valores. .

A recuperação judicial é solicitada quando uma empresa se encontra em dificuldades financeiras, a famosa “falência”.

Com o pedido aceito, eventuais execuções judiciais de dívidas são paralisadas por 180 dias e a empresa deverá apresentar em 60 dias uma proposta que inclua formas de pagamento aos credores e uma reorganização administrativa, de forma a evitar que a situação se agrave e chegue a um cenário de falência. A lista completa dos mais de 16 mil credores deverá ser entregue em 48 horas.

A empresa afirmou ter R$ 800 milhões em caixa e ter dívidas de R$ 43 bilhões. A recuperação judicial da Americanas é a quarta maior da história do Brasil.

Em termos de valores, a maior recuperação judicial do País é a da Odebrecht, que iniciou o processo com dívidas de R$ 80 bilhões. A segunda maior é da Oi, recentemente finalizada, de R$ 65 bilhões. A terceira é a da Samarco, de R$ 55 bilhões.

A dívida da Americanas, de R$ 43 bilhões, é maior que a da Sete Brasil, com R$ 19 bilhões, e da OGX, com R$ 12,3 bilhões, no ranking de maiores processos de recuperação judicial no Brasil.

A Americanas tem 44 mil funcionários. De acordo com a varejista, o processo de recuperação judicial tem o objetivo de “manutenção de empregos, pagamento de impostos e a boa relação com seus fornecedores e credores e investidores de forma geral”.

Passadas cerca de 24 horas da oficialização do pedido de recuperação e o anúncio do mesmo ao mercado, a Americanas já vem sofrendo com algumas consequências.

Analistas já começaram o velório

Nem mesmo a recuperação judicial parece estar trazendo um novo ânimo para especialistas que estão acompanhado o recente caso da polêmica da Americanas (AMER3).

Para Max Mustrangi, sócio da consultoria Excellance-Gestão de Turnaround e Reestruturação, especializada em reestruturação de empresas, a Americanas é uma empresa “morta”, sem perspectiva futura.

“É uma empresa morta. Ela estava sendo mantida viva artificialmente no tubo de oxigênio […] Existe um conceito em finanças chamado ‘sunk cost’ (custo afundado, em português). Você não coloca mais dinheiro em cima de custo afundado. Perdeu, playboy! Se tem dinheiro bom, vai colocar em outro lugar, não vai gastar para recuperar um defunto. Por isso a relutância do controlador [Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira] de colocar dinheiro nela. Ele sabe que não vale nada”, afirmou.

Analistas da Nord Research também se mostram pouco otimistas com a visão operacional da varejista. Em sua mais recente análise, a research projeta um aumento de 132% na dívida líquida (endividamento) no quarto trimestre de 2022 (4T22) ante o trimestre anterior.

“A varejista alega ter dívidas de R$ 43 bilhões. Levando em consideração o caixa reportado no 3T22 e descontando o valor bloqueado pelos bancos BTG e BV, a dívida líquida da varejista alcançaria cerca de R$ 35,8 bilhões, 132% maior que o divulgado no trimestre passado”.

Avalia Fabiano Vaz, analista da Nord.

Com isso, a alavancagem (Dívida Líquida/Ebitda Ajustado) da Americanas teria um saldo de 4,9 vezes para 11,4 vezes Ebitda.

“Com juros altos, a alavancagem elevada é um problema adicional. Os números ainda são muito incertos, mas elaborando algumas projeções, conseguimos ter uma dimensão do impacto que as “inconsistências” contábeis causaram para a companhia”, comenta o analista.

O fim da linha nos índices da B3

 Americanas (AMER3) será excluída de 14 índices da Bolsa brasileira a partir desta sexta-feira (20).

Segundo a B3, as ações da varejista devem sair do Ibovespa (IBOV) o principal índice da bolsa de valores brasileira, e marcam nesta sexta-feira, sua “última música”.

No entanto, a canção de despedida da varejista é uma verdadeira marcha fúnebre. As ações são “veladas” cotadas a R$ 0,73, em queda de 27% apenas no pregão de hoje. As ações já acumulam queda de 91% e marcam o pior desempenho de uma ação listada no índice ibovespa desde 1994.

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Além do ibovespa, a ação deve deixar deixar de fazer parte do Índice Small Caps (SMLL), do Índice Carbono Eficiente (ICO2), do Índice de Consumo (ICON), do Índice Brasil (IBXX), do Índice Valor (IVBX), do Índice Brasil Amplo (IBRA), do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), do Índice Brasil 50 (IBXL) e do GPTW (índice de empresas certificadas pela GPTW como as melhores para trabalhar).

As ações também sairão dos índices de governança corporativa: Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada (IGCX), o Índice de Governança Corporativa Trade (IGCT), Índice de Governança Corporativa – Novo Mercado (IGNM) e Índice de Ações com Tag Along Diferenciado (ITAG).

AME pode começar a dar calotes nos clientes

No entanto, nem o pequeno consumidor pode passar ileso da crise que afeta a varejistas.

Alguns consumidores estão ficando preocupados com as recentes operações da fintech AME, o sistema de pagamentos integrado da varejista e mecanismo de fidelização de clientes através dos famosos cashbacks.

Nas redes sociais, o debate passa pelas campanhas de alto pagamento de cashback durante o fim de 2022. A pegadinha alertada no entanto, passa que o dinheiro gerado de volta pela plataforma ficará congelado enquanto a recuperação judicial não mostrar novos avanços.

“A maior prova de que a Americanas sabia o que estava fazendo eu não vi ninguém aqui comentar: no final do ano, eles fizeram uma promoção louca nos produtos com 90% de cashback AME de volta. Até coloquei aqui. Conheço gente que gastou 50, 60 mil, comprando pra revender.”

Aponta uma internauta.

Os indícios de que a bomba fiscal da companhia já era de conhecimento interno também é fortalecida pelo fato de diretores da companhia terem se livrado de boa parte de suas posições nas ações da companhia ainda em 2022.