O sonho de ter um final de ano com as festas natalinas turbinadas de alegria pela conquista do hexa acabou se transformando em mais uma frustração pela eliminação precoce da Seleção na Copa do Mundo. Ter um time ofensivo e habilidoso, repleto de estrelas internacionais fez a torcida brasileira acreditar que desta vez seria diferente, mas novamente a desclassificação veio para uma seleção que não figurava, até poucos anos, entre as principais forças do futebol. Mas após ter chegado à final em 2018 e eliminado o Brasil em 2022, a Croácia consolidou uma imagem de vitória, tendo como principal característica a resiliência, o que deve servir de referência para os CEOs de startups.
Não se discute o fato de que a técnica é fundamental, mas também é verdade que o desejo é o maior aliado da vitória. Em um torneio de vida ou morte, o mata-mata que acontece a partir das oitavas de final, quem se empenha, se supera, quem rompe com os seus dogmas e faz mais do que combinou é que tem a vitória!
A Croácia tem feito isso nas últimas Copas. Com times considerados inferiores às grandes forças deste esporte, ela tem colocado a alma em campo a cada disputa de bola. Quando 90 minutos não são suficientes, ela vai para a prorrogação com o mesmo espírito. Se o tempo adicional não resolve, vêm os pênaltis e ela não desiste. Isto se chama resiliência. É disso que se trata quando se fala em colocar os interesses coletivos de uma nação como prioridade sobre os interesses individuais de cada um dos jogadores.
Ao fazer uma analogia sobre o comportamento dos croatas relacionado ao ambiente de inovação, é possível identificar algumas causas pelas quais muitas startups brasileiras começaram a não vingar.
Em muitos casos está claro que os CEOs têm os seus sonhos, as suas realidades de gestão aprendidas nos departamentos que se instalaram em “suas garagens” e não respeitam as máximas de preservar recursos para investimentos, de não testar diversas estratégias integradas ao mesmo tempo.
É comum também ocorrer de a humildade se esvair à medida que o criador começa a mentalizar seu negócio como o próximo Unicórnio Dourado. É óbvio que o entusiasmo com o negócio esteja sempre presente nestes líderes já que o CEO da Startup é o seu maior vendedor, mas é preciso evitar esta falta de razão.
Isto é possível simplesmente associando bom senso e vivência à sua expectativa.
Ser campeão em uma Copa do Mundo de startup exige resiliência como a da Croácia. É necessário também adquirir uma alta capacidade de aprendizado, escutar e incorporar sugestões e ideias às suas próprias.
Independentemente da sua formação, das suas experiências anteriores ou do time de profissionais que está ao seu lado, é fundamental que o CEO não se ache maior do que o todo! Será que o CEO da Startup está disposto a acordar cedo todos os dias e dedicar sua agenda semanal à operação do seu negócio? Será que o CEO da Startup está preparado para estabelecer um plano de metas ambicioso, mas ao mesmo tempo factível, para que seus resultados não sejam bolhas ou catastróficos.
Será que o discurso de corporações inclusivas, que respeitam o erro, não deveria ser aplicado junto de um planejamento de processos e controle dos erros antes que eles aconteçam e se multipliquem.
A vida é cheia de momentos mágicos nos quais o Neymar faz um gol de placa, mas logo em seguida uma sequência de erros acontece em cadeia, para que a Croácia empate!
Assim, a gestão das pessoas e dos seus objetivos deve ser o ponto principal da atenção das lideranças seja no esporte ou nos negócios.
Quem sabe, na próxima Copa ,os CEOs escolhidos não sejam mais humildes, que ainda não tenham recebido aportes que os tornem super-heróis em si.
Investir em novos negócios, em ideias inovadoras é fundamental, mas a parceria dos CEOs com os investidores deve ter o limite da sanidade financeira, da sanidade operacional, respeitando uma regra máxima: dinheiro não aceita desaforo!
A humildade e a resiliência ainda são elementos chaves para o estagiário, o aprendiz e os gestores corporativos que habitam o C-Level, ou será que estes se acham no Olimpo.
Por César Silva, diretor Presidente da Fundação de Apoio à Tecnologia (FAT) e docente da Faculdade de Tecnologia de São Paulo — FATEC-SP há mais de 30 anos.