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Demissão de Prates vai além da queda das ações da Petrobras

Além da queda das ações, a saída de Jean Prates pode influenciar no recuo pontual dos papéis e no fluxo de capital estrangeiro para a B3.

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  • Demissão de Jean Paul Prates, aparentemente já está causando divergências e recuos significativos
  • Na PETR4 já exerceu forte influência na queda de suas ações
  • A mudança pode, portanto, acarretar impactos amplos para os investidores
  • Também pode haver interferência no fluxo de capital estrangeiro para a B3

Na última quarta-feira (15), em meio a um cenário global de alta nos principais índices acionários, impulsionado pela divulgação do CPI americano de abril abaixo das expectativas, a Bolsa brasileira apresentou um recuo significativo. A decisão governamental de destituir Jean Paul Prates da presidência da Petrobras (PETR4) exerceu uma forte influência na queda das ações da empresa. Assim, contribuindo significativamente para o declínio observado.

A mudança pode acarretar impactos mais amplos para os investidores, indo além da simples queda momentânea das ações. Por exemplo, ela pode interferir no fluxo de capital estrangeiro para a B3.

Ao longo do dia, alguns analistas ressaltaram que a movimentação na Petrobras se junta a várias outras, indicando problemas políticos no Brasil. Devido ao seu tamanho e importância, a companhia torna-se não apenas um problema microeconômico, mas também macroeconômico.

“Uma troca de comando como foi no caso dessa, por pressão política, pega mal na visão do investidor estrangeiro. Eles, quando alocam em bolsa brasileira, têm preferência por ações de empresas que possuem boa liquidez dentro do nosso mercado”, afirma Andre Fernandes, sócio da A7 Capital.

Felipe Pontes, diretor de Gestão da Asset Management, ressalta que a decisão, ocorrendo em um momento de “sólidos resultados da Petrobras”, suscita preocupações de que os indicadores financeiros percam sua importância. Ele enfatiza: “O foco principal reside no uso que o governo deseja fazer das empresas sob controle estatal”.

A perspectiva predominante no mercado é que a nova presidente da estatal, Magda Chambriard, possa adotar uma abordagem mais intervencionista. Isso significa que o capital da companhia pode ser utilizado não apenas para buscar o lucro. Mas também para atender a certas demandas de partidários do governo, que clamam por mais investimentos.

Impacto macroeconômico

Além das considerações políticas, o evento também tem um impacto macroeconômico devido à magnitude da Petrobras. Atualmente, a estatal, com suas ações ordinárias e preferenciais, representa 13,1% do Ibovespa, o principal índice da B3, ficando apenas ligeiramente atrás da Vale, que detém uma participação de 13,44% no índice.

O grande porte da Petrobras também se reflete no alto volume de negociações diárias, posicionando suas ações entre as mais transacionadas na B3. Investidores estrangeiros, costumam adotar estratégias que permitam uma “saída rápida em caso de problemas”. Segundo dados da B3, até 13 de maio, estrangeiros já haviam retirado R$ 31,3 bilhões da Bolsa. A situação atual da Petrobras pode intensificar essa tendência de retirada.

“É possível dizer que a decisão tende a trazer efeitos também para o quadro macro, em um momento que já era difícil, com o Copom rachado na decisão sobre a Selic em maio e toda a situação no Rio Grande do Sul”, afirma o economista André Perfeito.

O impacto da Petrobras no cenário macroeconômico ficou claro ontem no câmbio, com o dólar subindo 0,12% frente ao real, enquanto perdia força globalmente, com o DXY caindo mais de 0,60%.

A inflação ao consumidor dos EUA (CPI) para abril, divulgada ontem, ficou abaixo do esperado. Reduzindo, assim, as expectativas de que o Federal Reserve manterá os juros em níveis elevados por um período prolongado. Isso provoca uma saída de capital do país. Economias emergentes, como a do Brasil, tendem a se beneficiar ainda mais com a queda das taxas de juros nos EUA.

“Junto com fatores como a mudança no arcabouço fiscal e o Copom dividido, a questão da Petrobras é mais um assunto que acaba minando a confiança do investidor. Apesar de termos mais latidos do que mordidas, o barulho afugenta”, aponta Walter Maciel, CEO da AZ QUEST.

Ele também lembra que no último mês houve ainda uma “melhora do fluxo para emergentes”, com os dados macro nos EUA dando alguma margem para queda dos juros.

Maciel, ainda menciona que a questão de Prates “é mais uma cena em um filme”.

“Não acho que o gringo vá, necessariamente, priorizar a Bolsa brasileira, mesmo com o recuo de juros lá fora. Apesar de os ativos locais estarem muito baratos, tudo depende da expectativa. Acho que o gringo vai olhar para a B3, vendo oportunidades, mas há pesos”.