Na última terça (9), o IBGE divulgou que o IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – teve queda de 0,68% em julho, após ter tido alta de 0,67% em junho. Com esses dados, o Brasil teve deflação, ou seja, uma inflação negativa. É a primeira deflação após 25 meses seguidos de alta nos preços. No mesmo dia, o Banco Central divulgou ata deixando ainda mais claro que o Brasil está caminhando para o fim do ciclo de alta de juros.
Para Fabio Louzada, economista, analista CNPI e fundador da Eu me banco, o IPCA veio em linha com o esperado pelo mercado.
“A gasolina foi um dos itens que mais registrou deflação. Isso ocorre devido às medidas do governo de redução do ICMS por conta da medida que determina que combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo passam a ser classificados como essenciais e indispensáveis proibindo estados de cobrarem taxa superior à alíquota geral de ICMS, que varia de 17% a 18% dependendo da localidade”, afirma Louzada.
Apesar da deflação, para Louzada, trata-se de um alívio temporário influenciado pelas medidas do governo de redução do ICMS. Tudo isso causa ainda mais pressão nos preços para o ano de 2023.
“Além disso, temos a PEC que cria um pacote social aumentando o valor do Auxílio Brasil e do Vale-Gás, além de voucher para caminhoneiros, e que vai até dezembro. Sentiremos os efeitos dessas medidas na inflação no começo de 2023. O próprio Boletim Focus mostra o IPCA de 2023 avançando, agora de 5,33% para 5,36%, a 18ª alta seguida”, diz.
Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital, ressalta que os dados do IPCA apontando para deflação ajudam a reforçar o fim do ciclo de alta de juros no Brasil.
“No cenário local, vimos o Copom aumentar os juros. Ata mostrou que o Copom está deixando claro que o ciclo de alta deve parar em 13,75%, o que é positivo para a bolsa de valores, ainda que as taxas se mantenham altas por um período mais longo“, diz.
Em meio a esse cenário, Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, acredita que os dados mais favoráveis em relação à inflação ajudam a gerar um sentimento mais favorável no mercado, e a melhorar os dados no mês a mês à medida que os investidores vão percebendo que o preço de hoje na Bolsa precifica um cenário muito pior, o qual não está se concretizando, o que também contribui para a “correção” na cotação de empresas que sofreram muito nos últimos meses como companhias do setor de varejo e que nos últimos dias são destaques positivos na B3.
“Apesar do segundo semestre prometer ser bem desafiador, agosto está começando com uma boa valorização, que pode ajudar a Bolsa brasileira a não sofrer tanto no período eleitoral. O resultado do processo de aperto monetário iniciado em março de 2021 começa a surtir efeito no controle da inflação e os bons ventos do mercado começam a soprar a favor da bolsa brasileira”, comenta Alves.
Nos EUA, a inflação também parece estar dando sinais de melhora. Para Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, o número de CPI (medidor de inflação ao consumidor americano) veio 0% na variação mensal para o mês de julho e o núcleo também veio abaixo do esperado em 0.3%.
“Isso impulsionou bem a bolsa americana e levou junto a brasileira, que de certa forma utiliza o número como uma “proxy”, um parâmetro para o que vemos no Brasil também. Com um número de CPI mais fraco, por mais que o discurso do FED continue bem duro, o mercado começa a precificar um range entre 3.25% e 3.5% no final do ano”, diz Marcelo.