Na última quarta (23), o dólar fechou a R$ 4,84, o menor valor desde 13 de março de 2020. Foi o sexto dia seguido de baixas na moeda. O banco Itaú bateu, inclusive, recorde de venda de dólar e euro no mês de fevereiro.
Segundo o banco, o montante transacionado da moeda norte-americana foi quase 13 vezes maior do que o registrado no mesmo período do ano passado.
De acordo com Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, escritório credenciado da XP Investimentos, o dólar em queda se justifica muito por conta do aumento da atratividade dos ativos locais.
“A renda fixa está pagando cada vez mais e a bolsa brasileira segue entre as mais baratas do mundo, o que faz aumentar o fluxo de entrada de dólar no país, valorizando o real frente à moeda americana. Com o dólar em baixa, o brasileiro volta a sonhar com as viagens internacionais, com uma cotação do dólar que não víamos há bastante tempo”.
Segundo Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, empresa de tecnologia e educação para investidores, o fluxo para a bolsa já estava bem positivo no ano, e com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o investidor passou a trazer mais dinheiro para o Brasil para cobrir essa mesma classe de ativos de países emergentes no portfólio do estrangeiro que parou de investir na Rússia, além da alta das commodities que vem impulsionando as empresas exportadoras, que são hoje as que tem maior participação no nosso índice Ibovespa.
“A constante entrada de fluxo estrangeiro para bolsa e para a renda fixa brasileira com Selic mais atraente para o investidor, juntamente com a alta nos preços das commodities favorece para continuar essa queda no dólar”, diz.
Com a Selic mais alta, ainda há, de acordo com Oliveira, um fator extra que ajuda a pressionar o dólar contra o real que é o chamado “Carry-Trade”, quando o investidor traz dinheiro de outros países com taxas de juros menores e aplica a taxa de juros brasileira que está mais alta.
“Para essa operação, ele precisa travar o câmbio vendendo dólar e comprando reais, o que favorece a valorização do real frente ao dólar”, afirma.
Jimmy Keller, economista e fundador da Keller Capital, lembra que atualmente o Brasil está somente atrás da Rússia em termos de juros reais, porém, dada a crise na Ucrânia, o país assume o protagonismo dos emergentes e traz uma assimetria de risco x retorno interessante para o investidor internacional, considerando que o risco Brasil hoje está em torno de 200 pontos, uma queda consistente em relação ao último pico em torno de 265 pontos em outubro de 2021.
“Todos esses fatores contribuem para uma melhora do ambiente econômico e atratividade do investidor, que ao trazer dólares, pressiona o câmbio para baixo. Mas é importante ficar atento, ainda não temos um cenário de bonança, pois o choque de oferta ainda existe, pressão inflacionária, eleições presidenciais no Brasil e ainda resta a resolução do conflito entre Rússia e Ucrânia”, ressalta Keller.
Rob Correa, analista de investimentos e autor do livro “Guia do Investidor de Sucesso no Longo Prazo”, ressalta que a nova taxa de juros no Brasil é de 11,75% e que já foi previsto pelo Copom, na última ata divulgada, um novo aumento de 100 pontos, o que pode continuar atraindo dinheiro do estrangeiro para o Brasil.
“Não é uma questão de ‘se’, e sim uma questão de ‘quanto mais’. No Brasil, o mercado já espera mais um aumento de 1% na próxima reunião, chegando até 13% ao ano”, completa.