- A ex-diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central, Fernanda Guardado, defendeu um aumento significativo da Selic
- Dessa forma, sugerindo que a taxa básica de juros suba quase 2 pontos percentuais nos próximos seis meses
- Essa medida, segundo ela, seria essencial para conter uma economia superaquecida e alinhar as expectativas de inflação
A ex-diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central, Fernanda Guardado, defendeu um aumento significativo da Selic. Dessa forma, sugerindo que a taxa básica de juros suba quase 2 pontos percentuais nos próximos seis meses. Essa medida, segundo ela, seria essencial para conter uma economia superaquecida e alinhar as expectativas de inflação.
Guardado propôs que o Banco Central inicie esse ciclo de ajuste, no entanto, com um aumento de 0,25 ponto percentual já neste mês. Assim, seguido de incrementos de 0,5 ponto nas reuniões de novembro e dezembro, levando a Selic a 12,25% em março. Ela, portanto, destacou que o cenário fiscal se deteriorou, o mercado de trabalho está aquecido e o crescimento econômico acelerado exige uma resposta firme.
“Para o Banco Central optar pela manutenção, ele teria que mostrar de uma forma muito enfática de onde está esperando que venha o desaquecimento da economia”, disse Guardado.
“Hoje está bastante difícil entender de onde viria um grande desaquecimento da economia se não for pelo lado da política monetária”, acrescentou ela.
Até o momento, o Banco Central não deu sinal claro sobre um possível ajuste em setembro. No entanto, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, afirmou recentemente que qualquer alteração nas taxas será feita de forma gradual.
A análise de Guardado reflete a drástica mudança no cenário monetário recente. Após quase um ano de cortes consecutivos, o BC interrompeu o ciclo de flexibilização em junho, deixando a Selic em 10,50%.
PIB e demais ajustes “cautelosos”
O PIB do segundo trimestre surpreendeu com um crescimento de 1,4%, impulsionado pela indústria, consumo das famílias e o setor de serviços. Enquanto isso, outras economias latino-americanas, como México, Chile e Colômbia, enfrentaram crescimento moderado ou até contração. Já o IPCA-15 de agosto desacelerou pouco, registrando 4,35% no acumulado de 12 meses. Economistas consultados pelo BC projetam inflação acima da meta de 3% até 2027.
Segundo Guardado, um ajuste cauteloso da política monetária poderia permitir que o Banco Central atinja sua meta de inflação no horizonte de 18 meses. “O BC deve estar confortável ao projetar tanto 3,2% quanto 2,8%”, afirmou ela, que é doutora em economia pela PUC-Rio.
Durante sua gestão no Banco Central, Guardado se opôs ao início do ciclo de flexibilização, defendendo cortes menores e conquistando uma reputação de voz conservadora dentro da instituição.
“Com o benefício do tempo ocorrido, talvez tivesse sido mais prudente de fato começar o ciclo de cortes de uma forma mais cautelosa”, apontou ela.
“O corte de juros talvez tenha ido um pouco além do que a economia mostrou que precisava.”
Guardado projeta que a inflação fechará o ano em torno de 4%, embora essas previsões estejam sendo revisadas. Além disso, sua expectativa atual para o crescimento econômico em 2024 é de 2,4%, mas ela admite que essa projeção pode ser elevada.
Em maio, uma votação dividida no Copom levantou preocupações entre investidores sobre uma postura mais branda em relação à inflação. Na ocasião, quatro membros do comitê, indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defenderam um corte de 0,5 ponto percentual na Selic, mesmo com a elevação nas projeções de gastos públicos e inflação.
No entanto, a maioria, liderada por Roberto Campos Neto, optou por uma redução mais conservadora de 0,25 ponto. Desde então, o Copom decidiu de forma unânime, e seus membros têm reforçado publicamente a “coesão” nas opiniões sobre a condução da política econômica.
“Acho importante que seja unânime a decisão e a sinalização”, disse Guardado.
“É importante que a comunicação agora seja mais simples, seja mais direta.”
Fernanda Guardado
Fernanda Guardado é uma economista brasileira que atuou como diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central do Brasil. Ela tem uma sólida formação acadêmica, sendo doutora em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Guardado é reconhecida por sua postura técnica e, durante sua gestão no BC, ganhou reputação de ser uma das vozes mais conservadoras (hawkish) dentro da instituição, especialmente em relação à política monetária.
Antes de sua passagem pelo Banco Central, ela teve uma carreira de destaque no setor privado, incluindo uma posição de economista-chefe no Banco Bocom BBM. Suas análises e previsões econômicas são frequentemente acompanhadas por especialistas, devido à sua experiência e credibilidade no cenário financeiro brasileiro.