Mesmo com um mercado global de fusões e aquisições mais “frio” em relação ao ritmo de negociações de 2021, o relatório “2022 M&A Report”, do Boston Consulting Group, mostra que o setor chegou a um valor total de US$ 1,85 trilhão –nível de atividade de fusões e aquisições mais alinhado com as médias pré-pandemia. As condições macroeconômicas desafiadoras, que puseram fim à onda de compras que se seguiu depois do afrouxamento das restrições do COVID-19, não impediram que as empresas chegassem a realizar mais de 22.000 negócios nos primeiros sete meses de 2022.
A análise do BCG mostra também que as considerações ambientais, sociais e de governança (ESG) motivarão um número crescente de negócios. Segundo a consultoria, o número global de negócios relacionados a ESG aumentou de cerca de 5.700 em 2011 para um recorde histórico de 9.200 em 2021 — um aumento de 60%. O volume desses negócios como parte de todas as atividades de M&A subiu de 12% em 2001 para 17% em 2011 e depois para 22% em 2021, o que mostra mais negociadores reconhecendo o potencial de criação de valor dessas transações.
Segundo Heitor Carrera, diretor executivo e sócio do BCG, apesar de o nível fusões e aquisições de 2022 ter voltado a níveis pré-pandemia, o mercado irá desacelerar até o final do ano. “No ano passado, vimos muitos negócios acontecendo em um ritmo veloz, algo que durou até o começo de 2022, mas que provavelmente não se manterá no curto prazo. No início da guerra na Ucrânia o setor foi movimentado por empresas que tentaram romper seus laços com a Rússia, enquanto muitos empresários russos deixaram seus investimentos em países ocidentais. A tendência é que o ritmo dessas movimentações diminua até o fim do ano”, afirma. “No Brasil, ainda temos algumas incertezas com a transição política dos governos estaduais e federal. Isso pode afetar também o ritmo dos negócios neste final de ano e muitos podem querem esperar até 2023 para a concluir as negociações”.
Mercados “verdes” estão ganhando força
O estudo também revelou uma clara tendência de alta nos negócios relacionados a ESG na última década. A aceleração foi mais forte em 2021, quando os volumes de negócios aumentaram 35% após dois anos mais suaves para atividades mais amplas de M&A e transações ESG.
Embora as fusões e aquisições relacionadas ao meio ambiente representem uma fração de todas as transações, eles aumentaram nos últimos anos — chegando a 6% em 2021, depois de ficarem em cerca de 5% de 2011 a 2019. Esses 20 % de aumento de 2019 a 2021 mostra que eles estão ganhando força como uma alavanca estratégica para a transformação ambiental.
O chamado “Green M&A” tem crescido de forma particularmente rápida em indústrias que estão na vanguarda da transição energética e em mercados emergentes. Nos últimos dez anos, o setor de energia e de serviços públicos tiveram o maior aumento, vendo sua participação nos negócios verdes crescer de 20% em 2011 para quase 40% em 2021. De acordo com o relatório, a região com o nível mais alto de atividade para esse tipo de M&A em 2021 foi o Oriente Médio. Mais de 10% dos negócios nessa região foram relacionados ao meio ambiente, após uma participação estável em cerca de 3% a 5% desde 2014. A região Ásia-Pacífico (especialmente a China) foi a segunda região mais ativa, com uma participação de “transações verdes” de aproximadamente 8% em 2021.
Negócios verdes criam valor?
À medida que os negócios verdes se tornam mais populares, eles também se tornam mais caros. Os preços médios de aquisição superaram a média geral do mercado em aproximadamente 7% nos últimos três anos, com valores de 20% a 30% em determinados setores.
No entanto, a análise do BCG revelou que, apesar dos preços substanciais que costumam exigir, os acordos verdes geralmente criam mais valor nos momentos dos anúncios e durante os dois anos seguintes. Ao analisar o retorno anormal acumulado (CAR) por períodos de três dias antes e depois de um anúncio, a consultoria mostra que o CAR médio de transações relacionadas ao meio ambiente (1,0%) é significativamente maior do que o de transações não verdes (0,6%). O relatório também determinou que o retorno total para o acionista (rTSR) médio de dois anos de negócios verdes (0,6%) excede o de tradicionais (0,4%).
“Negócios verdes geralmente geram um ganho substancial — tão alto quanto 20% a 30% em certos setores — mas nossa pesquisa mostra que, em muitos casos, o preço é justificado”, disse Daniel Friedman, diretor administrativo e sócio do BCG e coautor do relatório.
“Tanto no curto quanto no longo prazo, a mensagem é clara: as empresas que usam a abordagem certa para fazer negócios verdes geram retornos mais altos.”
O estudo “2022 M&A Report” está disponível no site do BCG, em inglês.