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Ibovespa registra o pior fluxo financeiro desde 2019

A crise nos fundos locais e incertezas macroeconômicas reduziram o volume de negócios e o Ibovespa registrou menor giro financeiro desde 2019.

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  • O interesse reduzido de investidores globais em mercados emergentes e a crise na indústria de fundos locais, somados às incertezas macroeconômicas, têm limitado o volume de negócios na bolsa
  • O Ibovespa registrou em junho, seu menor giro financeiro médio desde dezembro de 2019, marcando, assim, o pior desempenho em 54 meses
  • A expectativa de cortes significativos nas taxas este ano, que animou o mercado no final do ano passado, não se materializou. Deixando, assim, os investidores desanimados

O interesse reduzido de investidores globais em mercados emergentes e a crise na indústria de fundos locais, somados às incertezas macroeconômicas, têm limitado o volume de negócios na bolsa. Em junho, o Ibovespa registrou seu menor giro financeiro médio desde dezembro de 2019, marcando o pior desempenho em 54 meses.

Dados compilados pelo Valor Data da B3 mostram que o índice movimentou, em média, R$ 14,8 bilhões por dia em junho, comparado a R$ 14,1 bilhões no último mês de 2019. Esse valor representa pouco mais da metade dos R$ 27,8 bilhões registrados em fevereiro de 2021, o mês com o maior volume de negócios.

Desde então, os aumentos nas taxas de juros tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos têm diminuído o atrativo da bolsa. A expectativa de cortes significativos nas taxas este ano, que animou o mercado no final do ano passado, não se materializou. Deixando, assim, os investidores desanimados. Além disso, incertezas sobre a direção da economia brasileira têm adicionado ruídos ao cenário local.

“Começamos o ano com perspectiva de cortes de juros no exterior e de prolongamento do ciclo local. Agora, não há mais nada disso no radar. Se o cenário voltar a mudar lá fora, é possível retomar algum otimismo. A história local, pelo que temos visto, parece mais difícil de mudar no curto prazo”, aponta Tiago Cunha, gestor de renda variável da Ace Capital.

“Ademais, mercados emergentes traziam teses de crescimento para as carteiras globais, já que as empresas de países desenvolvidos estavam consolidadas e cresciam menos. Agora, há empresas de tecnologia nos EUA que entregam isso, é uma mudança estrutural.” Assim nota o executivo, apontando que fundos dedicados a emergentes têm sofrido com resgates (houve saídas de US$ 8,1 bilhões até junho, segundo a EPFR e que o Brasil diminuiu de tamanho dentro da classe).

Investidores estrangeiros sem incentivos

Thalles Franco, sócio e gestor da RPS Capital, observa que o investidor estrangeiro atualmente não encontra incentivos para investir na bolsa local. Isto, devido à segurança dos juros nos Estados Unidos e ao desempenho das bolsas americanas. Ele também aponta desafios para o retorno dos investidores locais: enquanto os investidores pessoa física têm produtos incentivados e isentos para investimento, os institucionais continuam enfrentando resgates.

Dados da Anbima mostram que até o final de maio, os fundos multimercados acumularam saques de R$ 54,1 bilhões em 2024. Isto, enquanto os fundos de ações tiveram saques de R$ 4,2 bilhões. Com base nesses números, o BTG Pactual estima que a alocação em ações representava apenas 8,9% do capital sob gestão total de fundos locais no mês passado. Esse é o nível mais baixo desde 2017, aproximando-se do mínimo histórico de 8,5% registrado em 2016.

“A dinâmica se retroalimenta. O estrangeiro tira recursos, a bolsa cai, o cotista resgata, o gestor vende forçosamente. Difícil saber quando vai parar. Talvez com alguma sinalização fiscal em agosto, na volta do recesso parlamentar, pelo menos para diminuir essa venda técnica”, explica Thalles Franco.

Como consequência, ele cita, ainda, que está mais difícil montar posições com visão de longo prazo. “O gestor é empurrado para carteira mais defensiva, com papéis mais líquidos, de empresas com bom momento operacional.”

 “Se não houver entrada de investidor estrangeiro, a tendência é piorar. A dinâmica local de resgates e migração de fluxo para renda fixa tende a continuar. O que poderia trazer uma melhora seria a queda dos juros aqui, mas o Banco Central parou de reduzir nessa última reunião e a curva de juros já precifica até novos aumentos”, diz Viccenzo Paternostro, gestor de renda variável da Gap Asset, o qual, acredita que o volume tende a continuar fraco.

Outra possível mudança, segundo Viccenzo, seria uma reversão na tendência recente de fluxo estrangeiro, dada a magnitude das saídas observadas até agora este ano. Apenas em junho, os investidores não residentes retiraram R$ 4,78 bilhões do mercado secundário da B3 até o dia 26. O saldo anual está negativo em R$ 40,68 bilhões, quase anulando as entradas de R$ 44,85 bilhões registradas em 2023.

“Se parte desse capital volta, há uma melhora na dinâmica. Pode acontecer, mas não sei se é para o curtíssimo prazo. Diria que é mais para o quarto trimestre deste ano do que para o terceiro”, complementa.

“Ainda é muito incipiente, não dá para afirmar que o estrangeiro voltou a olhar para o Brasil. Mas essa dinâmica é bem volátil e pode mudar muito rápido. Se a bolsa subir por um ou dois meses, o fluxo pode voltar, porque o investidor não quer perder a bolsa andando. Mas, com as informações de hoje, eu não diria que melhora em um ou dois meses”, cita. A Gap possui pouca exposição direcional à bolsa no momento, focando mais posições relativas.