A indústria brasileira cresceu 0,2% em 2023, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar do número positivo, na opinião da economista e professora da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Nadja Heiderich, o resultado não deve ser interpretado como um sinal de recuperação robusta.
“A indústria ainda opera 16,3% abaixo do pico histórico de maio de 2011, evidenciando a necessidade de uma análise mais profunda do cenário. O crescimento de 0,2% da indústria brasileira em 2023 deve ser encarado com cautela. É necessário focar em medidas que promovam um crescimento estrutural de longo prazo, com foco em inovação, qualificação profissional, infraestrutura e abertura comercial”, afirma.
Para a professora universitária, a indústria brasileira precisa de um ambiente de negócios mais favorável para alcançar seu pleno potencial e contribuir para o desenvolvimento do país. Nesse sentido, a nova política industrial é um passo importante, mas seu impacto em 2024 ainda será limitado.
A professora elencou os fatores que influenciaram positivamente o desempenho da indústria em 2023:
Base de comparação baixa: O crescimento de 0,2% em 2023 se compara a um ano de 2022 com queda de 0,7%, o que contribui para a distorção da percepção do crescimento.
Volatilidade da demanda: A indústria foi impactada por flutuações na demanda interna e externa, com setores como bens de consumo duráveis e bens intermediários registrando queda no segundo semestre de 2023, enquanto outros como bens de capital apresentaram crescimento.
Incertezas no cenário global: A guerra na Ucrânia, a alta da taxa de juros e a desaceleração da economia global geraram um ambiente de insegurança para investimentos e consumo, afetando o desempenho industrial.
COMO SERÁ 2024 PARA A INDÚSTRIA?
Para Nadja, as projeções para a indústria brasileira em 2024 são mistas. De um lado, a nova política industrial e a recuperação gradual da economia global podem impulsionar o crescimento. Do outro, a desaceleração da economia interna e a alta da taxa de juros podem frear a demanda e os investimentos.
“Embora a nova política industrial do governo Lula traga medidas promissoras para o desenvolvimento do setor, como investimentos em inovação, qualificação profissional e desburocratização, seu impacto em 2024 ainda será limitado. A implementação das medidas e seus efeitos na produtividade e competitividade da indústria levarão tempo”, acrescenta.
É PRECISO INVESTIR
O crescimento de 0,2% em 2023 não representa uma mudança estrutural na indústria brasileira. Para alcançar um crescimento sustentável de longo prazo, a docente da FECAP elenca as frentes que precisam de investimento e crescimento estrutural:
Inovação e tecnologia: Aumentar a competitividade da indústria brasileira por meio da adoção de tecnologias avançadas e da criação de produtos inovadores.
Qualificação profissional: Preparar a mão de obra para os desafios da indústria 4.0, com foco em habilidades como automação, robótica e inteligência artificial.
Infraestrutura: Melhorar a infraestrutura logística, energética e de telecomunicações para reduzir custos e aumentar a eficiência da indústria.
Abertura comercial: Buscar acordos comerciais que ampliem o acesso da indústria brasileira a novos mercados e promovam a competitividade.