- Os dados recentes realmente mostram a queda na inflação argentina, porém a população aponta que ainda não experimenta benefícios
- Desde que Milei assumiu o cargo no final do ano passado, a inflação na Argentina diminuiu significativamente
- Para muitos argentinos, a desaceleração da inflação ainda não foi suficiente para aliviar os impactos dos altos preços de serviços públicos
Os argentinos ainda não experimentam os benefícios do “arrefecimento da inflação“, mesmo com a expectativa de uma possível reversão na próxima divulgação oficial dos números, prevista para esta sexta-feira (12).
Desde que o presidente Javier Milei assumiu o cargo no final do ano passado, a inflação na Argentina diminuiu significativamente. Assim, caindo de 25,5% em dezembro para 4,2% em maio deste ano. Essa redução expressiva foi atribuída a uma série de medidas de contenção de custos. Além de políticas de austeridade que controlaram a demanda dos consumidores. Sem contar, as iniciativas para reduzir a emissão de dinheiro.
Uma pesquisa da Reuters indica uma possível reversão no cenário inflacionário em junho, com uma estimativa média de 5,1%. No entanto, na quinta-feira, o ministro da Economia de Milei, Luis Caputo, expressou expectativa de uma inflação abaixo de 5% para o mesmo período.
Para muitos argentinos, a desaceleração da inflação ainda não foi suficiente para aliviar os impactos dos altos preços de serviços públicos, transporte e alimentos. Isso ocorre em um contexto em que o salário mínimo mensal de 234.315 pesos (cerca de US$ 260) não conseguiu acompanhar a inflação anual, que atingiu quase 300%.
“Não acho que – a inflação – ande de mãos dadas com os aumentos salariais e impostos”, aponta Gustavo García, cabeleireiro de 47 anos que estava procurando pechinchas no mercado central de Buenos Aires.
“A inflação cotidiana é muito maior do que 4% ou 5%”, completa García, expressando ceticismo sobre os cálculos dos números oficiais.
Sob efeito Milei
Sob a liderança de Milei, um economista defensor do livre mercado, o governo encerrou o congelamento de preços em diversos serviços públicos e advoga por medidas fiscais rigorosas para revitalizar a economia. Desde sua posse, a tarifa mínima de ônibus em Buenos Aires aumentou, portanto, mais de 400%.
No mercado, Isidoro Recalde, de 67 anos, justifica, contudo, o aumento das tarifas como necessário e demonstra apoio ao plano governamental.
“O que pagávamos antes era insignificante”, afirma Isidoro. “Vamos ser realistas. No dia a dia, as coisas são complicadas, mas temos que seguir em frente.”
O governo argentino, no entanto, celebra seu sucesso em “domar a inflação de três dígitos” e o incremento das finanças do Estado. Isto, com os cortes de gastos de Milei.
“Reduzir a inflação significa proteger aqueles que têm menos”, disse o ministro da Economia.
“(A inflação) é o pior imposto sobre os pobres”, afirmou ele.
No entanto, a inflação permanece entre as mais elevadas globalmente, enquanto a recessão continua impactando severamente os consumidores, e a taxa de pobreza se aproxima dos 60%. Setores como o da construção enfrentam significativas perdas de empregos, intensificando a pressão sobre a população.
“Todos os dias há novos preços, não é que (a inflação) esteja parando”, explica Emilia, uma moradora de 65 anos que estava fazendo compras. “É uma mentira que os preços estão caindo”, acrescenta.