Notícias

Irmãos Batista participaram de cinco reuniões fora da agenda no Planalto

Controladores do grupo J&F, Joesley e Wesley Batista participaram de reuniões não registradas no Palácio do Planalto entre 2023 e 2024, antes de encontro com o presidente Lula em maio.

Imagem/Reprodução: Zanone Fraissat/Folhapress
Imagem/Reprodução: Zanone Fraissat/Folhapress
  • Joesley e Wesley Batista fizeram pelo menos cinco visitas ao Palácio do Planalto entre 2023 e 2024, antes de uma reunião oficial com o presidente Lula
  • Quatro das visitas, portanto, não foram registradas oficialmente em agendas de autoridades ou atas formais, levantando dúvidas sobre a natureza dos encontros
  • A Presidência e outros ministérios ainda não confirmaram quem foi o anfitrião de uma reunião em que Joesley, sozinho, esteve no Planalto

Os irmãos Joesley e Wesley Batista, controladores do grupo J&F e membros do conselho da JBS, realizaram ao menos cinco visitas ao Palácio do Planalto entre 2023 e 2024. Período que antecede uma reunião oficial com o presidente Lula (PT) em maio deste ano. No entanto, quatro dessas idas ao Planalto ocorreram sem que houvesse qualquer registro oficial em agendas de autoridades. Ou, ainda, em atas formais das reuniões, levantando questões sobre a natureza dos encontros. Além disso, a Presidência e outros ministérios ainda não confirmaram quem foi o anfitrião de outra reunião em que Joesley, sozinho, esteve presente na sede do Poder Executivo.

Consultado, o grupo J&F optou por não comentar as visitas realizadas pelos empresários ao Palácio do Planalto, onde o presidente Lula despacha regularmente. A reportagem da Folha obteve as informações sobre as entradas de Joesley e Wesley no Palácio do Planalto por meio de um pedido baseado na Lei de Acesso à Informação (LAI). Assim, o que revela um movimento de reaproximação dos empresários com o núcleo central do poder em Brasília.

As visitas ocorrem em um momento crítico, no qual o governo Lula participa de discussões que podem ter impacto direto sobre os negócios da J&F. Um dos temas centrais é a possível transferência de controle da Amazonas Energia para a Âmbar, uma das empresas do conglomerado dos irmãos Batista. O governo federal, em junho, publicou uma Medida Provisória (MP) que viabiliza essa transição, a qual está sendo analisada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Lula ainda precisa indicar um novo diretor para a Aneel, cargo que será posteriormente sabatinado pelo Senado.

A volta sob os holofotes

Além disso, a Âmbar também ganhou destaque ao ser a primeira empresa autorizada pelo governo brasileiro a importar energia elétrica da Venezuela. Dessa forma, em um esforço para reforçar o fornecimento de energia para o estado de Roraima, que historicamente enfrenta problemas de abastecimento.

Os irmãos Batista retornam ao foco após protagonizarem, em 2017, um grande escândalo político no Brasil, quando uma gravação de Joesley quase derrubou o presidente Michel Temer.

A reportagem usou informações da LAI para questionar assessorias do Planalto, incluindo Secom, Vice-Presidência e ministérios, sobre possíveis encontros com os empresários. Em resposta, a Secom confirmou que Celso Amorim, conselheiro especial de Lula para assuntos internacionais e assessor da Presidência, teve dois encontros com os irmãos Batista. Entretanto, as autoridades só incluíram esses encontros oficialmente nas agendas públicas após questionamentos da imprensa.

Outro membro do governo que esteve com os controladores da J&F foi Marcus Cavalcanti, secretário do Programa de Parceria de Investimentos (PPI). Ele participou de duas reuniões com os empresários no Planalto, que ainda não haviam sido registradas em agenda oficial até o fechamento da matéria.

De acordo com a Casa Civil, os representantes do grupo J&F apresentaram sua carteira de investimentos, tanto no Brasil quanto no exterior, durante esses encontros. No entanto, o ministério não especificou quais projetos foram discutidos nem se essas reuniões resultaram em avanços concretos nos negócios do grupo.

Questionamentos

As reuniões não registradas e o teor das discussões levantam questionamentos sobre a transparência no relacionamento entre o governo e grandes grupos empresariais. Especialmente em temas estratégicos para a economia do país.

No primeiro encontro entre Joesley e Wesley Batista com Marcus Cavalcanti, em 4 de outubro de 2023, os registros de entrada no Palácio do Planalto mostram a presença dos dois empresários. No segundo encontro, em 9 de janeiro de 2024, apenas Joesley teve sua entrada registrada. A Casa Civil atribuiu a ausência de registros na agenda a uma “falha de comunicação”, pois a equipe do PPI não atua diretamente no Planalto.

Na agenda de 4 de outubro, Cavalcanti teve outras cinco atividades listadas, incluindo uma no Planalto, mas a reunião com os irmãos Batista não foi mencionada. No encontro de 9 de janeiro, também não há registro de atividades programadas no e-Agendas, sistema eletrônico de compromissos do Executivo. Além disso, os registros mostram outra visita de Joesley ao Planalto em 8 de novembro de 2023, porém, tanto a Presidência quanto outros ministérios negaram ter tido compromissos com ele nessa data, sem explicar o motivo de sua presença.

Encontros

Os encontros com Celso Amorim, conselheiro de Lula, ocorreram em 1º e 23 de fevereiro de 2024. Ambos mencionam apenas Joesley, mas os registros do Planalto indicam que Wesley também esteve presente na segunda reunião. A Secretaria de Comunicação (Secom) não esclareceu se ele participou dos encontros. A agenda de Amorim incluiu essas reuniões oficialmente em 4 de setembro, um dia após a Folha de S.Paulo questionar as visitas dos empresários ao Planalto. Segundo o governo, os encontros trataram de “visita de cortesia e temas de interesse da instituição”.

Em 27 de maio, os irmãos Batista reuniram-se no Planalto com Lula, Carlos Fávaro, Gilberto Tomazoni e outros representantes do setor. O encontro tinha como objetivo discutir a doação de proteína animal para complementar cestas básicas no Rio Grande do Sul. Joesley e Wesley entraram pela portaria principal do Planalto nessa visita, mas não passaram pelo setor de credenciamento de visitantes, e o sistema do Planalto não registrou a reunião.

Diversas ocasiões

Os irmãos já haviam sido vistos ao lado de Lula em outras ocasiões durante seu atual mandato, fora do Palácio do Planalto. Em abril, eles acompanharam o presidente em um evento de inauguração de uma indústria de processamento de carne da JBS. E, em março de 2023, integraram a comitiva de Lula em sua viagem à China.

Após ficarem afastados do conselho de administração da JBS desde 2017, devido à Operação Lava Jato, os Batista retornaram em 2023. A pressão do mercado causou a renúncia, mas em 2023, Dias Toffoli suspendeu os efeitos do acordo de leniência da J&F. A decisão de Toffoli, baseada na alegação de coação por parte dos procuradores da Lava Jato, suspendeu multas que somavam R$ 10,3 bilhões.

Sair da versão mobile