“A apresentação da nova âncora fiscal pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, poderá tornar fora de contexto a manutenção da Selic em 13,75% ao ano ou algo próximo, conforme sinaliza a expectativa do mercado quanto à reunião do Copom nestes dias 21 e 22 de março.”
A observação é de Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), entidade que congrega 8.000 indústrias no estado, que explica:
“Se a nova proposta do governo para o equilíbrio das contas públicas for eficaz, como esperamos, não seriam necessários juros tão elevados”.
Por isso, o dirigente classista pondera que seria pertinente incluir o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, dentre as pessoas às quais deverá ser apresentado o projeto. Haddad, segundo informou nesta segunda-feira (20/03), deverá mostrar o plano de âncora fiscal em reuniões até esta terça-feira (21/03) — ou seja, exatamente quando começa a segunda reunião do Copom deste ano — com líderes partidários, presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado e economistas que não são do mercado.
“Quem sabe, o diálogo e a troca de informações não contribuíssem para o início de um ciclo mais acentuado de queda da Selic. Isso demonstra que, a despeito da independência da política monetária, é preciso haver mais sinergia quando estão em jogo os interesses maiores do País”.
Cervone salienta que houve avanços nos entendimentos entre o governo e o Banco Central, mas ainda é preciso avançar.
“O primeiro tem a meta de promover o crescimento da economia, mas isso não pode ser feito sob riscos elevados de recrudescimento inflacionário. O segundo, que, com certeza, também almeja o aumento do PIB, tem meta de inflação a cumprir, que é de 3,25% em 2023 e 3% em 2024/025. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio nessa equação, para que o Brasil estimule investimentos, crie mais empregos e promova forte retomada do nível de atividade”.
O presidente do Ciesp lembra que o País tem hoje o juro real mais alto do mundo, em torno de 8%, muito acima de todos os demais. O segundo colocado, para se ter ideia de comparação, é o México, com 2,7%.
“Com taxas como as nossas, será difícil crescer, pois o custo do dinheiro é um fator crítico para os investimentos das empresas na expansão dos negócios. Por isso, é preciso encontrar meios de conciliar o fomento mais expressivo do PIB e o controle inflacionário”, conclui.