O setor de medicina reprodutiva deve intensificar as atividades de fusões e aquisições (M&A) e crescer em média 23% ao ano até 2026 no Brasil, segundo um estudo inédito realizado pela Redirection International, empresa especializada em assessoria de fusões e aquisições. O estudo foi feito a partir de modelos econômicos e estatísticos, com base nos dados globais e nacionais do setor, e aponta que atualmente o mercado brasileiro movimenta cerca de R$ 1,3 bilhão e chegará ao final de 2026 com pouco mais de R$ 3 bilhões.
De acordo com a Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida (REDLARA), o Brasil lidera o ranking de fertilização in vitro (FIV), inseminação artificial e transferência de embriões e concentra 40% de todos os centros de reprodução assistida da América Latina.
“Apesar de ser o líder regional, o mercado brasileiro de fertilidade ainda está em fase inicial de consolidação, diferente de outros segmentos do setor de saúde, o que abre oportunidades para atividades de fusões e aquisições e para a formação de grandes grupos nacionais”, destaca o economista Vinicius Oliveira, sócio da Redirection International e um dos responsáveis pelo estudo.
O levantamento aponta ainda que a maioria dos centros de reprodução assistida estão concentrados nas regiões Sudeste e Sul do Brasil e que, até 2021, quatro estados brasileiros não possuíam nenhuma clínica ou laboratório especializado em fertilidade.
“Observamos que o mercado é altamente fragmentado e sem grupos em posição de liderança nacional. Por isso, há espaço para que as clínicas que atuam hoje de modo local se preparem para possíveis transações de M&A, visando se tornarem líderes em suas regiões ou serem consolidadas por essas líderes que estão começando a se formar no mercado brasileiro”, explica Vinicius Oliveira.
Entre as vantagens desta consolidação, o estudo aponta a redução de custos operacionais, devido à maior escala e maior poder de negociação com fornecedores; aumento da capacidade de investimentos em novas unidades, equipamentos e marketing; possibilidade de oferecer financiamentos dos tratamentos dos clientes, aumentando o volume e acesso desses pacientes ao serviço.
Vinicius Oliveira relembra algumas movimentações recentes no mercado que apontam para a consolidação de grandes grupos no setor, como por exemplo, a aquisição de cinco clínicas de reprodução assistida pelo Fundo de Private Equity da XP, anunciada no início deste ano. Outro player que já possui histórico de aquisições no setor é o Grupo Huntington que somente no ano passado adquiriu a Cenafert (Bahia) e a FertilCare, de Brasília.
“As estratégias que se revelam para muitos dos grandes grupos de saúde é a expansão para um modelo full service, em que a empresa possa atender as mais diversas demandas de seus pacientes”, destaca.
Fertilização in vitro é a principal técnica no Brasil
De acordo com o estudo da Redirection International, a fertilização in vitro (FIV) responde por 2/3 (dois terços) do mercado brasileiro de reprodução assistida, movimentando cerca de R$ 900 milhões por ano. A técnica resulta em taxas de gravidez mais elevadas por ciclo, reduzindo o custo médio e tonando o serviço mais acessível à população, segundo o relatório.
“Entre os principais fatores para a alta demanda do mercado de medicina reprodutiva estão a mudança cultural para ter filhos mais tarde, o estilo de vida e os problemas de saúde que impactam a taxa de fertilidade da população que, em geral tem o desejo de constituir família e sofre a pressão do relógio biológico. Além destes fatores sociais que tendem a aumentar o crescimento do setor, investidores e outras empresas de saúde olham com bons olhos o segmento de reprodução assistida, por ter baixa participação da assistência pública, como o SUS, e também de planos de saúde, tendo a prevalência de tratamentos particulares”, explica Vinicius Oliveira.
Dados do 14º Relatório do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio) apontam que em 2020 foram realizados 34.623 procedimentos de fertilização in vitro no Brasil, volume que aumentou em 2021, com 45.952 ciclos. O relatório aponta ainda que em 2020 e 2021 foram congelados mais de 202 mil embriões e 154.630 óvulos e registradas mais de 36 mil gestações clínicas a partir de técnicas de reprodução humana assistida.