Analistas comentam o que foi destaque no ano e falam sobre expectativas para o próximo ano.
Na última terça (19), a agência de classificação de risco S&P Global Ratings elevou a nota de crédito do Brasil de BB- para BB. Em nota, a S&P destacou a aprovação da reforma tributária brasileira e melhores perspectivas de crescimento econômico neste ano como pontos positivos do cenário brasileiro. Por outro lado, a agência destaca que o déficit nas contas públicas segue elevado e passa por correção gradual, o que preocupa.
O ano de 2023, de fato, foi de muitas incertezas para os investidores. Anderson Santos, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, explica que 2023 teve muita volatilidade, instabilidade geopolítica com conflitos entre países e crescimento muito forte da taxa de juros longa dos EUA, principalmente entre agosto e outubro.
“O mercado de trabalho apertado trouxe uma incerteza para o mercado se o FED ainda subiria os juros ou não. Em novembro, os dados macroeconômicos vieram mais fracos que a atividade, tivemos a queda da inflação e o efeito da política monetária restritiva. Com falas mais dovish de Powell ao anunciar a última manutenção de juros por lá, os investidores começaram a se animar com um cenário de queda de juros por lá mais próximo”, comenta Santos.
Para Santos, um dos setores que mais se destacou no ano nos EUA foi o bancário, com JP Morgan, Wells Fargo, Citigroup, Morgan Stanley, Bank of America e Goldman Sachs apresentando surpresas positivas em lucros e receitas, com destaque para o segmento de crédito, para o qual se tinha uma perspectiva ruim em decorrência das taxas de juros elevadas, mas que se manteve resiliente. Ele explica também que o setor de tecnologia foi o principal destaque entre as empresas norte-americanas, principalmente as empresas tecnológicas ligadas à inteligência artificial.
No Brasil, Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, acredita que os setores que mais se destacaram no ano foram o financeiro e o de commodities.
“Apesar da confusão com a Americanas S.A, o setor financeiro se saiu bem em 2023. Com uma perspectiva de corte de juros no Brasil, que acaba deixando o custo do passivo dos bancos mais barato, e um aumento na demanda por crédito devido a uma taxa mais atraente, acredito que os grandes destaques foram Itaú e Banco do Brasil, que conseguiram manter uma boa rentabilidade em seus balanços e uma inadimplência controlada”, comenta.
Já o setor de commodities chamou a atenção, segundo Fernandes, por conta de empresas de exploração de petróleo como Petrobrás e PRIO, que tiveram ótimos balanços: “Anunciando recordes de produção de petróleo, o setor agro também se beneficiou com safras recordes”, diz.
Apolo Duarte, head de renda variável e sócio da AVG Capital, ressalta que no resultado do ano, a maior parte das empresas do Ibovespa está com uma ótima performance.
“O ano de 2024 foi marcado por extremos. No início do ano, o investidor estava muito pessimista com o Brasil devido ao novo governo e incertezas globais, contudo conforme o ano foi passando tivemos avanços de pautas políticas importantes. O controle da inflação começou a fazer efeito e as incertezas globais diminuíram”, comenta.
Segundo Duarte, é possível que estejamos começando um novo ciclo de alta na bolsa, que é tão esperado faz alguns anos. “Quando olhamos para o histórico parece que a bolsa brasileira ainda tem um bom gás pra frente, pois está negociando abaixo das médias históricas, mesmo após essa alta. Mas é importante manter o olhar no cenário lá fora, acompanhar a evolução dos resultados das empresas, cenário político/fiscal interno e o macro precisa ajudar para que isso se concretize”, relata.
Nesse cenário, Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, recomenda ao investidor ficar atento muito ao que vai acontecer em relação aos juros no mundo.
“Dados recentes de inflação nos EUA apontam para um cenário de queda de juros por lá. Então, com isso, me parece que o dólar a princípio não terá um ano de alta em 24. Também não acredito que vai chegar a 7 reais, como muito se falou, não chegou nem perto disso. Então, eu acho que o investidor tem que ter sempre cautela, tem que ter sempre, na minha opinião, diversificação. Não colocar todos os ovos na mesma cesta, mesmo que muitas vezes seja bem atrativo”, afirma.
Além de ações, um investimento que Cohen considera promissor para 2024 é criptomoedas. “Eu vejo que um dos investimentos que mais se valorizou nesse contexto todo foi criptomoedas, assim como o mercado de ações, tanto o Ibovespa como S&P. Na minha visão, o melhor de todos nesse ano em termos de valorização, apesar de toda a volatilidade, foi criptomoedas. O bitcoin costuma acompanhar os índices mundiais, principalmente, bolsas dos EUA. E com as bolsas subindo lá, criptomoedas também tiveram valorização”, diz. Ele destaca ainda que 2024 é o ano do halving do bitcoin, então ressalta que há uma grande chance de a criptomoeda subir.
Para o ano que vem, Jaqueline Kist, sócia da Matriz Capital, acredita que ações ligadas ao setor de consumo podem ser beneficiadas. “No Brasil, posicionar-se no cenário de queda de juros e retomada econômica pode ser interessante em setores ligados à expansão do crédito, como o setor de construção civil, educação, ações de transportes e varejo”, diz. Ela comenta que são setores mais voláteis, justamente por sua relação muito próxima com o cenário de renda no país.
Anderson Silva, head de renda variável e sócio da GT Capital, lembra que o cenário de 2024 será de queda de juros e, nesse contexto, os custos de empréstimos e financiamentos tendem a diminuir também.
“Isso significa que as empresas do setor de varejo podem obter capital mais barato, facilitando a expansão, investimentos em estoque e melhorias nas instalações. Historicamente taxas de juros e mercado de renda variável andam em direções opostas e enquanto a taxa de juros e renda variável continuarem andando em direções opostas com juros para baixo, o mercado de ações tende a apontar para cima, principalmente as ações de crescimento”, comenta.
Já no mercado de ações, Leonardo Piovesan, analista fundamentalista da Quantzed, indica a Moura Dubeux (MDN3), Eucatex (EUCA3) e Portobello (PTBL3) como as três principais ações para ficar de olho em 2024.
“A Moura está passando por um ciclo de grandes lançamentos e bastante obra em andamento com entregas para fazer em 2024 e 2025, então a empresa está passando por uma fase de queima de caixa e bastante obra. E um dos atrativos é que a empresa deve iniciar um ciclo de pagamento de bons dividendos a partir de 2025, quando a companhia termina essas obras, faz as entregas dos imóveis e começa a gerar a caixa. Então eu estimo um dividend yield de 2 dígitos a partir para 2025”, diz.
Para Eucatex, Piovesan projeta um crescimento de resultado: “Conforme a economia for reaquecendo, o setor de material de construção vai reaquecer também, e é bem provável, bem possível que ela tenha um crescimento de resultado para ano que vem”.
Em relação a Portobello, o analista destaca que é uma empresa que tem duas vertentes de crescimento forte. “Uma delas é a Porto Belo Shopping, que é uma rede de varejo que tem mostrado um forte crescimento nos últimos anos, mesmo com um período de economia difícil, com juros altos, crédito apertado, o que está fazendo esse setor sofrer, mas essa rede está indo bem. A empresa lançou recentemente também uma fábrica nos Estados Unidos que entrou em operação e deve gerar um crescimento bom de resultado consolidado para 2024”, finaliza.