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Profissão perigo: Americanas contrata CFO "especialista" em tirar empresas da falência

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A Americanas (AMER3) anunciou nesta tarde de terça-feira (17) a contratação da executiva Camille Loyo Faria,o Faria para a posição de diretora financeira (CFO) e de relações com investidores da empresa. Ela era CFO da operadora TIM Brasil e foi diretora de relações com investidores da Oi entre 2019 e 2021, durante o processo de recuperação judicial (RJ) da empresa de telecomunicações.

Segundo especialistas no mercado, a experiência da executiva em comandar a área financeira de uma grande empresa durante uma RJ poderá ser valiosa para a Americanas, que já sinalizou à Justiça que vai buscar esse caminho caso não consiga alcançar um acordo com os principais credores para a dívida declarada de cerca de R$ 40 bilhões.

No entanto, a executiva também traz certa desconfiança do mercado. Camille Loyo Faria já foi investigada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por ter deixado de prestar informações ao mercado enquanto CFO da operadora TIM Brasil (TIMS3) e diretora de relações com investidores da Oi (OIBR3). Os processos foram encerrados em dezembro de 2022, depois de acordo em que a executiva concordou em pagar R$ 1,38 milhão à autarquia.

O que aconteceu com a Americanas?

A Americanas está enfrentando aquele que provavelmente será o maior escândalo da bolsa da decáda. A companhia iniciou seu “highway to hell” após informar o mercado que inconsistências bancárias revelarem um rombo de R$ 20 bilhões para empresa, e que pode até mesmo dobrar segundo algumas estimativas.

Segundo o já “ex-CEO” Sérgio Rial, a companhia cresceu muito rápido e, para se financiar – principalmente na operação digital –, a Americanas antecipava pagamentos para fornecedores contratando dívida com os bancos – uma operação comum, conhecida como “risco sacado”.

Nesse tipo de transação, o banco compra com deságio a dívida da empresa com o fornecedor. Depois de um prazo estipulado, a companhia tem que pagar o banco (e não mais o fornecedor).

Essas transações deveriam ter sido contabilizadas como dívida bancária, uma vez que a Americanas tinha que pagar ao banco, mas, segundo Rial, a dívida era contabilizada como “conta de fornecedores”.

“É como você pagar um produto de R$ 10 à vista por R$ 9 utilizando o dinheiro do banco, pagar o banco a prazo por R$ 9,50 e contabilizar apenas R$ 9. Isso é computado como se fosse uma dívida com o dono da loja do produto, e não com o banco — o que incorre em despesas de juros ao longo do tempo”, explica a analista de ações da Nord Research, Danielle Lopes.

Rial estima que os impactos dessas inconsistências sejam de R$ 20 bilhões, mas o mercado teme que a auditoria externa confirme uma alavancagem ainda maior.

Todo o entusiasmo dos operadores com os últimos dados se converteu em debandada e diversas dúvidas sobre o futuro da empresa.

Antes da notícia, os papéis da companhia vinham de 42% de valorização no período de um mês por conta do otimismo com a nova gestão, tocada por Rial. 

Com queda de -77%, a Americanas perdeu R$ 8,4 bilhões em valor de mercado após rombo bilionário.

Victor Bueno, analista de Small Caps da Nord Research, acredita que, para aqueles que já estão posicionados nas ações, antes de vender é melhor aguardar por sinalizações mais concretas sobre o que vai ser feito pela companhia para contornar esse grande rombo bilionário. 

Mas, ao mesmo tempo, não é momento para comprar novas ações ou abrir posição (para os que não são acionistas) em AMER3 apenas porque os papéis apresentaram essa grande queda ontem. 

“É importante ressaltar que as oportunidades não surgem somente pela desvalorização de uma ação, mas sim pelo conjunto de fatores: bons fundamentos da empresa + preço adequado de seus papéis”, afirma.

Pensando a longo prazo, o foco do investidor deve ser em companhias resilientes e que podem continuar entregando crescimento apesar do cenário — ainda mais em um setor desafiador como o varejo no país.