- O agravamento da seca e dos incêndios em diversas regiões do Brasil está projetado, no entanto, para impactar significativamente o agronegócio e a economia do país
- Em 2024, o Brasil enfrenta a pior seca desde o início dos registros em 1950
- Além da escassez de chuvas, o país também está lidando com incêndios florestais em expansão
O agravamento da seca e dos incêndios em diversas regiões do Brasil está projetado, no entanto, para impactar significativamente o agronegócio e a economia do país. A redução das safras e o aumento dos preços dos alimentos são esperados, com produtos como açúcar, café, hortaliças e frutas sendo particularmente afetados. Esses aumentos de preços devem, portanto, pressionar a inflação durante os meses de setembro e outubro.
Em 2024, o Brasil enfrenta a pior seca desde o início dos registros em 1950. O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) relata que a seca atual é mais severa do que as de 1998 e 2015/2016. Dessa forma, afetando 58% do território nacional. Além da escassez de chuvas, o país também está lidando com incêndios florestais em expansão. Regiões como o interior de São Paulo, o Pantanal e a Amazônia têm registrado queimadas intensas.
Uma das culturas mais prejudicadas é a do café. Setembro, tradicionalmente um mês de florada, pode sofrer um impacto negativo devido à falta de chuvas. Além disso, a cotação do café arábica aumentou 87% no mercado internacional no último ano. E, as empresas que antes evitaram repassar esse aumento para o consumidor agora enfrentam dificuldades para manter esse custo sob controle.
A situação da safra de cana-de-açúcar também é preocupante. De acordo com a Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), as queimadas já causaram um prejuízo estimado de R$ 800 milhões aos produtores de cana. Este montante reflete os danos às plantas, às soqueiras (raízes) e à qualidade da matéria-prima. Os incêndios destruíram mais de 100 mil hectares de áreas de plantio e rebrota de cana, exacerbando ainda mais a crise no setor.
O CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira, afirmou que a cana só conseguirá rebrotar quando houver água no solo, ou seja, quando as chuvas chegarem. “Esse cenário de clima seco e falta de chuvas pode impactar a safra futura, mas ainda é cedo para previsões. Esperamos que as chuvas deste final de ano venham de forma uniforme e volumosa e a rebrota da cana-de-açúcar aconteça de uma maneira mais tranquila”.
Preços de frutas e hortaliças vão subir rapidamente
Além das queimadas, a seca severa também afeta os canaviais. Com a queda na produção, espera-se que os consumidores sintam esses impactos a partir de outubro, com a elevação dos preços do açúcar e do etanol.
Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a seca está elevando rapidamente os preços de frutas e hortaliças. A laranja, contudo, enfrenta os maiores desafios devido à massa de ar quente que está causando estresse hídrico nos pomares e comprometendo sua qualidade. O Brasil, sendo o maior produtor mundial de laranja e suco de laranja, vê a situação agravada pelos baixos estoques de suco.
“A tendência é que a indústria continue demandando fortemente a fruta, num contexto em que a safra prevista será baixa, o que tende a influenciar em uma menor oferta do produto para o atacado e mercado de mesa, fazendo com que os preços se mantenham por longo período elevados”, afirmou a companhia.
A produção de melancia em São Paulo e Goiás também está sendo afetada. Embora a fruta suporte bem o calor, condições climáticas extremas podem reduzir sua qualidade e tamanho, provocando manchas na casca e alterando o grau de doçura.
A banana, portanto, já teve aumento de preços devido à baixa produção, exacerbada pela irregularidade das chuvas que prejudicou os bananais e afetou o desenvolvimento dos cachos.
Para as hortaliças, a falta prolongada de chuvas prejudica as lavouras sem irrigação. A Conab aponta que cenouras e tomates, sendo mais sensíveis ao clima, enfrentarão picos de preços devido às condições adversas.
Carne bovina também sobe
A carne bovina enfrenta desafios devido à redução da umidade e ao aumento das queimadas, que impactam negativamente as pastagens. Essa situação tende a elevar os custos de produção, especialmente em regiões sem infraestrutura adequada para mitigar os efeitos da seca. Como resultado, espera-se um aumento no preço da carne nos próximos meses.
No entanto, a Conab observa que o ciclo pecuário deste ano deve alcançar o pico de oferta de animais para abate, o que pode elevar a produção de carne no país e atenuar parcialmente os impactos da seca.
Por outro lado, as proteínas suína e de frango devem sofrer um impacto menos severo. Na região Sul, que responde por mais de 70% da produção nacional desses produtos, a seca tem sido menos intensa devido às chuvas recentes e à previsão de um evento de La Niña branda, que tende a trazer chuvas acima da média.
Sem riscos para os grãos
A Conab não prevê aumento nos preços de grãos como milho, arroz, trigo e soja devido à seca atual, pois a maior parte da colheita já foi concluída, garantindo oferta estável.
O feijão tem apresentado bom rendimento, beneficiado pelas chuvas no Nordeste e pela irrigação no centro-sul.
A produção de milho deve cair 12,3%, para 115,6 milhões de toneladas, mas ainda será suficiente para o abastecimento interno. Em 2024, espera-se uma redução nas exportações de milho.
A produção de arroz deve aumentar para 10,59 milhões de toneladas, 5,6% a mais que na safra anterior.