O dólar teve uma forte alta em relação ao real nesta quinta-feira (3) em resposta ao corte da taxa básica de juros, Selic, acima das expectativas do mercado. Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o Banco Central reduziu a Selic em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano.
A queda dos juros no Brasil impacta diretamente na atratividade dos investimentos estrangeiros, e para entender esse cenário, é importante mencionar a teoria do risco país. O risco país é um indicador que mede a percepção de risco dos investidores em relação à economia de um país, refletindo a probabilidade de um país enfrentar dificuldades em honrar suas obrigações financeiras.
Quando os juros estão em níveis mais altos, o risco país tende a ser menor, pois a remuneração dos investidores é mais atrativa, compensando o possível risco envolvido. Por outro lado, quando os juros são reduzidos, como ocorreu com o corte da Selic, o risco país tende a aumentar, pois os investidores podem se sentir menos incentivados a investir em um país com rendimentos menores e com maior incerteza econômica.
Assim, a queda dos juros no Brasil pode incentivar a saída de investidores estrangeiros, que buscam outras oportunidades de investimento em economias com melhores perspectivas de retorno. A busca por maior segurança e rendimentos mais atrativos em outros mercados pode levar à valorização do dólar em relação ao real, como observado hoje.
O movimento de alta da moeda americana foi impulsionado pela debandada de investidores estrangeiros que buscam alternativas mais atrativas em outros mercados. Os juros são considerados um fator de apoio para o real, tornando-o mais atrativo para estratégias de “carry trade”, onde investidores tomam empréstimos em moedas de baixo juro para aplicar em ativos de alto rendimento em moedas de juros mais altos.
Entretanto, mesmo com o início do afrouxamento da política monetária pelo Banco Central, alguns participantes do mercado argumentam que a Selic permanecerá em nível restritivo, tornando o real ainda atrativo. Além disso, uma visão mais otimista sobre a conjuntura doméstica e a entrada de fluxo estrangeiro em renda variável no Brasil poderiam compensar a menor atratividade do “carry trade”.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, mencionou à Reuters que o impacto no mercado de câmbio foi limitado pela sinalização do BC de que não pretende acelerar o ritmo de cortes na taxa de juros. Ele também observou que parte do risco de um corte menos parcimonioso da Selic já havia sido precificado pelos operadores.
Apesar das perspectivas positivas, o dólar registra uma alta de curto prazo, principalmente devido à aversão ao risco nos principais índices mundiais, o que favorece a busca por ativos considerados mais seguros, como o dólar americano.
O cenário internacional também contribui para a aversão ao risco, com a Fitch Ratings rebaixando o rating de longo prazo dos Estados Unidos, citando a “esperada deterioração fiscal” nos próximos três anos. Isso, juntamente com dados econômicos negativos na zona do euro e informações sobre o mercado imobiliário chinês, aumenta as preocupações com o crescimento econômico mundial, levando moedas emergentes a perderem frente ao dólar.
Dados recentes mostram que a atividade empresarial na zona do euro teve uma retração pior do que o esperado em julho.
Agora, os olhos dos investidores se voltam para um relatório de empregos nos Estados Unidos, previsto para sexta-feira, que pode influenciar a trajetória do dólar nos próximos meses. Dependendo dos resultados desse relatório, os investidores poderão entender se o Federal Reserve (Fed) já encerrou ou não seu ciclo de aperto monetário.
O especialista em câmbio da Manchester Investimentos, Thiago Avallone, ressalta a relevância desses dados, que poderão indicar se o dólar se fortalecerá nos próximos meses ou não.
O cenário econômico mundial e as expectativas em relação aos juros no Brasil continuarão a influenciar o comportamento do dólar e a atratividade dos investimentos estrangeiros no país. Os investidores estarão atentos às políticas monetárias e econômicas para tomar decisões prudentes em um cenário de volatilidade e incertezas.