Nesta semana, o Copom – Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne para decidir os rumos em relação à taxa básica de juros, a Selic. A reunião acontece em um momento em que o mercado está otimista com a decisão. Na última semana, o IBGE divulgou dados sobre o IPCA-15, que veio com deflação de -0,07%. Essa foi a primeira variação negativa do indicador desde setembro de 2022, quando o índice caiu 0,37%.
Recentemente também, o Ministério da Fazenda elevou a estimativa oficial do PIB para 2,5% em 2023. No último mês de maio, a projeção era de alta de 1,91%. Para 2024, o Ministério também reduziu a estimativa para a inflação oficial para 3,30% enquanto em maio a projeção era de 3,63%.
Abaixo veja comentários de alguns analistas do mercado sobre a expectativa em relação à decisão:
Rodrigo Azevedo, economista, planejador financeiro e sócio-fundador da GT Capital
A minha expectativa é de um corte inicial de 0,25 para dar início a esse ciclo de queda de juros e aí depois sim possivelmente dentro desse ano de 2023 ainda alguns cortes na casa de 0,50, pelo menos mais dois cortes. O que me faz pensar que deve ser um corte de 0,25 é porque dentro do próprio comunicado do COPOM, na ata do COPOM, ficou muito claro que existia uma divergência dentro do próprio comitê entre um grupo mais conservador, um grupo que defendia ainda a manutenção da taxa de juros nos patamares atuais para tomar uma medida mais cautelosa, e um outro grupo que já acreditava, sim, que é o momento de iniciar essa inflexão da taxa de juros. Então, dado esse cenário que foi passado dentro da ata do COPOM, eu acredito que esse corte deve ficar na casa de 0,25.
É sempre importante lembrar que a renda fixa tem um papel muito importante na carteira do investidor independente do patamar da taxa de juros. Então mesmo que estejamos entrando agora em um ciclo de queda e imagina-se que esse ciclo deva durar aí pelo menos dois anos, mesmo ao final desse período, o patamar que a gente deve ter de taxa de juros ainda deve sim ser bastante interessante para esse investidor que gosta e que utiliza a renda fixa dentro do seu portfólio de investimentos.
Então para aquele investidor que tem um pouco mais de conhecimento, pouco mais experiência no mercado, nos títulos de crédito privado por exemplo ainda existem muitas oportunidades de ganho acima do nível de taxa de juros. Para aquele investidor que é um pouco mais conservador existem sim títulos, por exemplo, prefixados, além dos indexados ao IPCA que ainda também apresentam uma rentabilidade bastante interessante. Claro que não são nos mesmos níveis do que se via há 2 ou 3 meses atrás. Isso deve diminuir ao passar do tempo, mas ainda assim, são opções muito interessantes ao olhar a rentabilidade e comparar com o restante do mundo. Então mesmo iniciando esse ciclo de queda agora vão ter sim muitas oportunidades aí pelos próximos anos dentro do mercado de renda fixa.
Ana Paula Carvalho, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital
Depois do último dado divulgado nesta semana sobre o IPCA-15, que apresentou uma deflação de -0,07% antes uma expectativa de -0,02%, acredito que o Banco Central pode reduzir a taxa Selic em 0,50, visto que a inflação tem mostrado uma melhora qualitativa, com a redução dos preços de energia e alimentos. Além disso, de acordo com o boletim Focus desta semana, os economistas ouvidos veem uma melhora nas projeções para inflação, com expectativa de redução tanto para este ano como para o próximo.
Acredito que o ambiente ainda esteja favorável para ativos de duration mais longa e dada a expectativa de um ciclo longo de cortes de juros, o investidor deve reduzir sua exposição aos ativos pós-fixados atrelados ao CDI / Selic.
Diante disso, o investidor deve olhar para títulos atrelados ao IPCA com duration superior a 5 anos e papéis préfixados de duration média de 3,5 anos. Um pontos de atenção é adequar a carteira ao cenário atual e tentar se antecipar aos movimentos de queda das taxas de juros, aproveitando as oportunidades que ainda existem nos títulos com parte prefixada e os de renda variável de empresas de boa qualidade e que ainda estão com preços atrativos, empresas essas que se beneficiarão num cenário com taxa Selic mais baixa.
Andre Fernandes, especialista em mercado de capitais e sócio da A7 Capital
Nossa expectativa, com os dados que saíram recentemente como o IPCA-15 que veio melhor que o esperado, e ainda não está refletindo a queda nos preços dos automóveis novos, juntamente com uma melhora nos núcleos de inflação, o IGP-M que veio levemente abaixo do esperado também, um discurso mais dovish por parte do FED, que o mercado está interpretando que não deve vir novas altas na taxa básica de juros americana, e por fim com a taxa de câmbio nessa faixa dos R$ 4,70-R$ 4,75, o Banco Central tem espaço para cortar -0,50% na taxa SELIC, e já vemos essas apostas crescendo na curva de juros, com o mercado colocando 70% de probabilidade de corte de -0,50% na próxima reunião. Portanto, acreditamos que o Banco Central deva vir sim com um corte mais agressivo na SELIC, pois todo o cenário está se desenhando para isso. Acreditamos também que apesar da alta do petróleo, a Petrobrás não deve fazer reajustes de preços tão cedo, o que contribui para segurar a inflação. E que a Petrobras deva segurar uma defasagem de até 30-35% no preço em comparação aos preços internacionais, e isso contribui para aliviar a pressão no IPCA e dar um conforto maior para o Banco Central cortar o juros em -0,50%.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed
Eu acredito que o Banco Central já começa o corte de juros na próxima reunião. A grande dúvida é se começa em passos de 0,25 ou de 0,50. Eu pessoalmente acredito que comece com queda de 0.25. E há dois fatores que vão influenciar essa possibilidade de início de corte de juros. O primeiro é a ancoragem das expectativas para o médio e longo prazo, mas mais importante do que isso nesse momento é o arrefecimento dos indicadores de inflação que a gente tem visto de maneira recorrente. Então, a gente tem de fato visto o IPCA apresentando números melhores, os núcleos de inflação também apresentando uma dinâmica melhor.
É bem verdade que o setor de serviços ainda segue pressionado, o emprego segue pressionado, mas em contrapartida a gente consegue ver já uma retração do crédito, a gente já vê o próprio IPCA mostrando sinais de arrefecimento e a própria ancoragem das expectativas dos agentes econômicos em função de todas essas reformas, de todo esse avanço que a gente tem acompanhado no Congresso, reforma tributária, o novo arcabouço fiscal. Esses temas ainda precisam passar por uma nova votação, mas a questão é que o pontapé inicial já foi dado, então isso também contribui para que haja uma melhora da dinâmica das expectativas para médio e longo prazo. Então, temos tanto esses fatores que corroboram para o Banco Central começar a cortar juros com as expectativas de médio e longo prazo melhorando por conta de toda a questão política e fiscal como também a questão dos indicadores de inflação que tem demonstrado um arrefecimento recorrente mês após mês.
Quando se tem um cenário de queda de taxa de juros, o melhor investimento são os investimentos prefixados, mas a gente já está muito próximo de iniciar o corte e o mercado já precifica isso antecipadamente, então o melhor momento para se comprar prefixado foi quando a expectativa com relação às taxas de juros ainda estavam altas e esse movimento já passou. O ponto de inflexão já aconteceu desde meados de março, ou seja, ainda existe um prêmio a ser capturado em investimentos prefixados, mas é um prêmio mais magro com um risco maior agora.
Então, o ideal é ter uma parcela menor em prefixados e, para o momento atual, faz mais sentido investir em ativos indexados ao IPCA porque qualquer evento que faça a inflação voltar a subir gera um ganho adicional do carrego do papel. Em contrapartida, o investidor acaba sofrendo um pouco também com a parcela prefixada. A estratégia para capturar algum movimento especulativo ficou com a margem muito estreita, então agora o investidor tem que se contentar com receber menos e ainda mais ter a estratégia de carregar para o vencimento mais do que nunca.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos
Pessoalmente eu acredito que a taxa deve cair 0,25% porque até agora o Copom não tem se mostrado uma postura tão agressiva assim, dada a demora para cair os juros. Então, acho que ele vai ser bem religioso no caso de seguir a risca, a cartilha e optar por uma queda de 0,25% mesmo com o IPCA-15 tendo vindo melhor do que o esperado. Na minha visão, mesmo com essa queda, a renda fixa continua atrativa e ao mesmo tempo a Bolsa está em um momento de alta um pouco exagerada.
Acredito que o ideal seria esperar um pouquinho mais a Bolsa voltar para poder pensar em entradas boas ou escolher empresas que ainda estão defasadas. Então, eu esperaria um pouquinho o mercado voltar para pensar nisso e eu ainda acho que renda fixa, mesmo com a queda, está atrativa. Com a renda fixa caindo mais, aí sim vale também a pena pensar em fundos imobiliários, que já está valendo a pena entrar.
Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos e pós-graduado em análise financeira
Apesar do mercado estar cravado que vai cair 0,5%, eu acredito que vai vir uma queda menor, de 0,25%. Acredito que os EUA estão ainda num cenário distante de queda de juros e o Banco Central Europeu também tem falado em aumento de taxa de juros.
Eu acho que seria bom ter uma flexibilidade porque, na minha visão, se o BC baixar 0,5% agora e baixar 0,25% depois na próxima reunião não vai ser bem visto. Eu acho que na hora que, tiver uma queda de Selic, vai ter que manter essa queda durante um tempo. Eu acho que a forma mais contida de fazer isso é cortar agora 0,25% e dependendo de como estiver o cenário daqui para frente, aumentar a queda.
O cenário interno é favorável, mas o externo não. A inflação está pesando muito nos Estados Unidos diferente do que ocorre no Brasil. Com isso, acredito que com parcimônia, o BC corta 0,25%.